quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

*** SENTADO COM O DIABO *** conto







*** SENTADO COM O DIABO ***



Amigos,
Antes de ser rotulada como tendo feito plágio neste conto, preciso dizer que a idéia original de um diálogo fictício entre um ser humano e o demônio já foi amplamente utilizada na literatura, por grandes romancistas, escritores, ensaístas além de poetas. Vitor Hugo colocou um personagem à papear com o Senhor do Mal. Ígor Nessinski, fêz Bóris Nurtchev, o guarda livros do Czar Pedro o Grande, "contracenar" com o Diabo quando de suas andanças por São Petersbugo à cata de sonegadores . Não fui tão a fundo. Este é apenas um pálido ensaio que tem por escopo a distração momentânea... risos... Com vocês o Didí...


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O dia não estava sendo muito generoso. Os motivos de sempre...Ele entrou numa livraria antiga e cometeu a besteira de comprar um livro de auto-ajuda. No ônibus, bem ao contrário do resto, encontrou um banco vago e por algum instante chegou a pensar em ficar feliz. Na hora lhe veio a frase batida..a felicidade se encontra nas pequenas coisas... Pequenas coisas: cobertura em bairro nobre, conta bancária recheada, mulheres, estabilidade no emprego. Essas foram as “pequenas coisas” que Didí catalogou mentalmente na hora. O lugar no ônibus não lhe fez, definitivamente, sentir nada parecido com felicidade. Serviu para amenizar o cansaço das pernas e o peso da pasta.
Sentou-se próximo à janela, cabeça caída no vidro e olhar distante. Não demorou muito e uma mulher sentou ao seu lado. Com o canto do olho percebeu que era bonita. Deu uma olhadela discreta, talvez menos discreta do que imaginara porque a moça apressou-se em cobrir as pernas com a revista que tinha nas mãos. Resmungou em silêncio. Um lugar na frente vagou e a moça não pensou mais de uma vez para levantar, deixando-o sozinho. Quase a puxou pelo braço, quase a chamou por um nome qualquer por não conhecer o verdadeiro.
Não ficou sozinho por muito tempo. Em seguida outra mulher atirou-se contra ele, cheia de sacolas plásticas do supermercado. Foi literalmente amassado contra a lateral do ônibus. Logo a raiva tomou conta de seu corpo, já exausto das desilusões daquele dia amargo. Lembrou-se de Um Dia De Fúria com Michael Douglas e lamentou por não ter uma metralhadora na pasta de couro. “Vou sacanear essa velha”, pensou de imediato. Pegou o livro de auto-ajuda e começou a folha-lo rapidamente, passando o dedo indicador pelas frases para fingir que estava lendo. A velocidade dos movimentos nitidamente começava a atiçar a curiosidade da mulher.
- Algum problema? – perguntou com a cara mais séria que conseguiu.
- Não... nada não. O senhor lê rápido, não é mesmo?
- Ah, a leitura! A senhora não se preocupe. Eu leio assim porque fiz um pacto com o diabo.
A mulher arregalou os olhos. Tinha a aparência daquelas senhoras bem religiosas, do tipo que não perde missa no domingo por razão nenhuma.
- É, é verdade. Um pacto com o diabo. – Ressaltava a entonação cada vez que pronunciava o nome do capeta. – Eu era pequeno. Tinha enormes dificuldades para ler na escola e sofria muito com isso. Então... Bem, a senhora compreende.
- Meu Deus do céu!
- Pois bem. Tive que sacrificar minha própria irmãzinha, com minhas próprias mãos de criança. Em troca o diabo me daria o dom de ler com incrível velocidade pelo resto dos meus dias.
Quase em pânico, a mulher tentou gaguejar alguma coisa, mas as palavras não saíram. Juntou apressada as sacolas que tinha colocado no chão e desceu na parada seguinte. Teve vontade de rir com o terror que provocou na pobre velha. Mereceria um prêmio da Academia, concluiu.
- Boa tarde.
Agora foi um homem que sentou ao seu lado. Franzino, com idade denunciada pelos cabelos que começavam a ficar brancos. Provavelmente usava um perfume barato.
- Eu disse boa tarde. – Insistiu o homem.
- Olhe aqui, amigo, eu não estou com vontade de conversar, está bem?
- Mas por quê? Eu sei que você está com muitos problemas. Conversar ajuda, ainda mais comigo.
- Com você? Grande coisa...
- Não se impressione: eu sou o que os humanos chamam de diabo.
Virou o rosto para olhá-lo, desconfiado.
- Está me achando com cara de idiota?
- Quer que eu responda?
Ignorou a ilustre presença. Ficou olhando a rua e os primeiros pingos da chuva que começavam a cair.
- Sabia que não acreditaria, até pela forma simples que eu adquiri aqui nesse corpo. Mas isso é bom sinal, porque se não acreditam em mim, não acreditam em Deus. Vocês andam meio descrentes ultimamente.
- Era o que me faltava! Você bem que poderia ser Deus ao invés do diabo...
- Seu deus é mais vaidoso do que pensa.
- Se isso fosse um filme, estaríamos em Los Angeles e você seria o Tom Cruise.
- Pra lhe dizer a verdade, o Brasil é um dos últimos lugares que escolhi. Quando cheguei, estipulei que a primeira pessoa que pronunciasse meu nome seria ofertada com a minha excitante companhia. Cá estou, ao seu lado.
Todas as infelicidades do dia lhe fizeram dar continuidade àquele diálogo supostamente idiota. Era, de fato, o último acontecimento trágico que lhe restava: a visita da mais maligna entidade do universo.
- Me dê uma prova de que é o diabo de verdade.
- Simples. Perceba como ninguém nos ouve ou nos nota.
Olhou em volta. Todas as outras pessoas mantinham-se na mais absoluta normalidade comportamental. Quis provar a capacidade do capeta e para tal soltou um grito, audível em qualquer posição do coletivo:
- Católicos filhos da puta! O demônio veio pegar vocês todos!
Apesar do escândalo, ninguém moveu um músculo.
- Você não acha que eu deveria estar assustado, apavorado ou alguma coisa parecida? – perguntou ao visitante, com uma voz preguiçosa que refletia seu estado de espírito.
- As coisas não têm sido muito boas pra você ultimamente. Não há muito mais a perder, logo não há motivos para o medo.
- Você deve estar contente com isso. Mais um católico fodido...
- Calma. Não sou tão ruim quanto pregam por aí. Tristeza alheia não me faz feliz. No fundo, sou bom como qualquer outro anjinho besta desse céu azul calcinha que hoje está cinza.
- Então é verdade que você é um anjo rebelde?
- É, pode se dizer que sim. Sou o irmão caçula de uma família riquinha, mais inteligente e mais bonito que os outros irmãos. Ao invés de bajulado, como é o normal, sou o problema, sou aquele que leva a culpa pelos vasos quebrados. Excluíram-me num quartinho mal-cheiroso e quente, que é o inferno. Meu pai, que é Deus, mora na sua mansão azul.
- O céu?
- Isso mesmo. Sou, sem dúvida, parecido com Ele. Sou, na verdade, alguma coisa indescritível criada para assumir as culpas dos erros de Deus, que fica sendo o perfeito da história. Deve-se reconhecer a esperteza do Velho.
Não se esforçou para compreender o que estava acontecendo. Era doentio, era inverossímil, mas proporcionava-lhe um estranho conforto que não pretendeu questionar.
- Por quê você está me dizendo tudo isso? Logo pra mim...
- Vejo que você é um cara discreto. Te contei muitas verdades, mas sei que você não vai sair fazendo fofoca pelo mundo. Não sou marketeiro como o Gostosão lá de cima. Prefiro continuar na minha.
- Desse jeito estou até sentindo pena do diabo.
- Não, não sinta pena de mim. Também não sou tão bonzinho assim...
Ficou observando o homem levantar e, logo depois, descer do ônibus. Sorriu ao perceber que o diabo também esquecera o guarda-chuva. Engraçado - pensou Didí.. A vida imita a arte?.. Dr Fausto teve um destino trágico por se envolver com o Diabo... Bóris Nurtchev também se estrepou.. Eu falo com o tinhoso, ele se levanta, vai-se embora assim, sem mais e nem menos... e ainda se esquece do guarda chuvas...Encostou novamente a cabeça na janela. Queria dormir só para ver se não acordava já na cama de casa, suado, percebendo que tudo não passava de um sonho louco, como acontece com os mocinhos nos filmes de Hollywood. Nem notou o cabo de alta tensão que, chicoteou na esquina com um ruído gargalhante e se enroscou no ônibus....
 
MariaAntonietaRdeMattos.
maio de 2000




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*** A MULHER E O ANJO *** crônica




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*** A MULHER E O ANJO ***



          Apucarana Pr, 11 de Março de 2005.

          D
ia destes eu estava em Curitiba, mais precisamente na Assembléia Legislativa à procura do "meu" deputado, para conseguir recursos para um projeto, que estava executando para uma prefeitura do interior ter seguimento. Entre marchas e contramarchas, deu a hora do almoço e ainda não havíamos resolvido a peleja. O prefeito ficou "negociando" com o deputado as "teorias" finais e eu aproveitei para descer até o restaurante daquela casa de Leis e almoçar. Seitei-me à uma mesa de canto e o garçon me trouxe a tábua de cardápio. Escolhí um prato simples, acompanhado de um refrigerante qualquer e ele sumiu em direção da cozinha para providenciar o pedido.

          Estou sentado, dando tratos à bola quando uma mulher, acompanhada de um anjo aproximou-se da mesa vizinha. O anjo, que naturalmente estava vestido à paisana, de terno e gravata como o lugar pedia, puxou-lhe divinamente, uma cadeira, e após isto feito, sentou-se à sua frente. Fiquei curioso por ver que o ser alado mal escondia as asas, que possuia, nas costas.O garçom chegou com minha comida. Deixou tudo alí, bonitinho, e foi atender aos dois viventes da mesa ao lado. Anotou apenas o pedido da mulher, aja visto que anjos não comem comida como nós, simples mortais. Uma conversa começou a rolar entre eles, o anjo e a mulher e eu, entre uma e outra garfada, estiquei bem as orelhas para escutar o que diziam. Surpreendeu-me de início que uma criatura do mais puro sangue divino houvesse resolvido tomar companhia de uma mulher a quem sua presença fazia profeta. Mas no meio político deve ser natural, portanto resolví que estava tudo bem.
          O que comecei a achar absurdo e que, enquanto o impertinente guardião dos céus benzia em latim o azeite de oliva num surto de mania irritante, ela usava a colher cedida pro consumo de sopa como espelho esférico com que pudesse se produzir melhor.
          - você acha que eu tô apresentável pra Ele? - dizia ela com a colher em mão e o sedoso cabelo entre os dedos da outra, inflamando vaidosa.
          - Sim - dizia o anjo. está à Sua perfeita imagem-semelhança.

          Ela ficava nitidamente impaciente com as réplicas solenes que fluíam daquela boca angelical como música de harpa.
          - Você sabe que, no fundo, não se trata disso.
          E o anjo, sabiamente,
          - Não sei. não conjecturo. não hipotetizo. nem sou onisciente, e, aliás, pode me considerar com o devido respeito uma extensão mais burra do Senhor Todo Poderoso; aqui estou simples e unicamente para cumprir seus mercedários desígnios... terminou?
          De forma alguma. ela ainda aplicava nos lábios aquele obsceno batom vermelho como se fosse a própria língua de seu namorado submetida a controles manuais.
          - Você pretende impressionar Ele com isso? sabe que é assexuado.
          Ela não sabia. Lá da minha mesa eu não aguentei e rí..
          - Mas uai, nós não somos a Sua imagem-semelhança? de onde vêm então nossos... ?
          - Ora, foram introduzidos artificialmente no intuito de que vocês se reproduzissem. A fecundação externa não tinha graça pra ninguém, porque não proporcionava prazer, então assim, sabia Deus Pai, o Adão e a Eva não... não conjugariam-se. Aquelas folhinhas de árvore eram os planos originais de Deus, mas vocês são sádicos demais pra aceitar reprodução sem penetração.
          - Putz, as folhinhas... !?
          - Não blasfeme.
          - Achei que elas eram invenção daquele viado, o Michelangelo.
          - Longe disso.!!
          Ela olhou pra baixo, deve ter movido as pernas, inspirou fundo e expirou as palavras 'Graças a Deus'.
          -E depois - continuou o anjo - Ele tomou a providência de que os demais organismos que se multiplicassem por fecundação externa sentissem prazer, pra apagar os rastros da vergonhosa origem de vocês. compreendia que vocês eram arbitrários demais e que assim um dia chegariam ao ponto de estudar como sapos dão continuidade a suas respectivas espécies.
          - Bichos escrotos. odeio sapos.
          De lá da minha mesa eu balancei imperceptivelmente a cabeça em um gesto de concordância. eu também detesto sapo..
          - Sim.
          - Essa minha sopa tá demorando, né?
          - Para os seus ínfimos parâmetros de passageira existência terrestre, está...
          - Não seja chato.
          - Desculpe. hábito.
          - Muito manjado, por sinal.
          Dois instantes de silêncio.
          -Opa, chegou. quer?
          - Não. não saberia o que fazer com ela daqui a algumas horas....
          - Ah, é. desculpe.
          - Por nada!!. Aliás, sou inclusive grato, ó misericordioso pai, por não necessitar fazê-lo.
         Eu notei então que o anjo, na sequência e distraído, deixou descer seu olhar pelas curvas celebráveis de sua profeta. Uma associação rápida e perversa, uma pausa em suas ancas, um susto lúcido e rápido e o coitado enrubescia feito um serafim.
          - O que foi? você tá parecendo um serafim.

          Então ela conhecera outras aparições... deduzi mascando duas folhas de rúcula..
          - Lembrei de sodoma.
          - Ahn?
          - Eu não era vivo então, apenas uma faísca de amor no coração justo e grandioso dAquele que criou a luz. Mas tenho colegas que falam de suas experiências.
          - E como foram?
          - Parece que teriam apreciado, se fossem capazes.
          - Ah, sei. o lance do livre-arbítrio.
          - Sim.
          A mulher o estudava com mais argúcia que o recomendado. Continuava...
          - Deve ser uma vida morta. não compreendo como suportam - nisso, ela afastara o pote da sopa pro lado - Não poder sentir... - Agora repousara ambos os antebraços no espaço descoberto e, com ambos os cotovelos apontados na direção de seu ventre - ... Experimentar... - Inclinou-se na direção do anjo, deixando sobressair do decote meio volume dos cativantes seios - ... Tesão...
          - Santo Deus!! - Exclamou retraindo-se o ser angelical, que caíra na dela. A menina era cheia de gracinhas.
          - Ahahahah, como você é inocente!!...mané!!.

          Retomou a posição inicial pra terminar sua sopa que saborosa estava e não se podia desperdiçar. ela o olhava de cima agora.
          - Pois saiba que não nos faz diferença; a nós é concedida e bênção de viver no paraíso sob a ação de gozo eterno, replicou o anjo ofendido...
          - Eterno?.. Cacete. às vezes parece que meus recórdicos 32 minutos são demais.
          - Curioso.!!
          - Se bem que deve ficar chato depois disso; ou pelo menos estabelecer dependência química.
          - Pode ser. é, você está certa. Preciso regressar o mais rápido possível, já começo a me incomodar.
          - Ixi, sai dessa fissura, meu.!!
          - Vamos terminar logo com isso. Que situação imbecil.
          - Okay. a gente vai pra minha casa e lá você me transmite a mensagem por clarividência. Já vímos que meu deputado não vai me atender mesmo..Tratemos da outra questão então... Agora é a minha vez?
          - Vez de outra... ainda....como de usual.
          - Então não vai ser dessa vez a minha vez.
          - Não.
          - É, então pelo menos dá pra dizer assim, por cima, qual é a da vez?
          - Não sei se devo.
          - Ora - Sorria ela maliciosamente - E quem poderia saber?

          Eu já estava rapando quase que chamativamente os resquícios de comida de meu prato, pois queria fingir continuar almoçando para assim poder escutar um tanto mais dessa conversa que, apesar de não ter começado alí, estava interessante.
          - Muito bem. é o seguinte:
          - Diz.
          - Deixe-me terminar. Dentro de duas semanas estourará outro escândalo sexual na casa branca. a monica lewinsky continua prestando serviços aos presidentes da casa... O quê? agora o anjo era um fofoqueiro, free-lancer de tablóide ? por isso, francamente, eu não esperava...
          - Caramba. essa mulher é um aspirador de pó humano. Achei que ela já tinha feito tudo...
          - Ledo engano...
          - Mas é algo admirável o que essas meninas fazem. Se sacrificar desse jeito pelo bem da humanidade, de geração em geração.
          - Certamente. Toda lewinsky por isso garante no céu lugar reservado, e muito justamente, diga-se de passagem: é a forma mais hedionda de holocausto ao Santíssimo que se poderia inventar. Não fosse sua necessidade impreterível, bastaria para tal reserva degolar uma cabra de semestre em semestre.
          - Nunca entendi isso direito. É realmente um martírio, não uma maldição ?
          - Sim!!. Aquele que é eleito à sala oval é assaltado por fartas doses de pospotência. Portanto precisa tê-la despendida, do contrário o fará por si próprio sobre os mais fracos. Imagine um presidente americano sem uma amante; isso significaria para cada sobrenome presidencial uma nova doutrina com que se arcar. não se contariam países subdesenvolvidos o suficiente, e o planeta acabaria reduzido ao G-8. Assim o sistema comunista brotaria naturalmente, e você sabe como Deus é com comunistas...
          - Por que brotaria?
          - Existe um contrato com a coca-cola que obriga os países do G-8 a se renderem submissos ante sua glória caramelo caso o planeta seja reduzido a eles. Ainda te digo: por detrás das malignas arquitetações dessa empresa fantasma há um cachorro comunista.
          - Cachorro mesmo?
          - Mesmo.
          - Quanta hipocrisia.
          - Sim.
          Ela terminara.

         - Terminei. vamos então?
         - Vamos.
         Eles se levantaram, e saíram caminhando despretensiosamente pra se perder na multidão. Não pude ver quaisquer feixes de luz celeste arrebatadores, de corais maravilhosos que encantassem e embebessem a audição, de infiéis desabando a contorcer-se no piso ante a passagem deles, nem de perfumes adocicados que costumam tomar os lugares em que relações cósmicas deste nível se dão. lembro-me apenas dessa conversa doida e inacreditável, e da comida ruim que deixou naquela tarde meu estômago doente pesado. Deve ter sido a rúcula..
      MariaAntonietaRdeMattos.                   março de 1999 

*** QUANDO EU ATROPELEI A MULHER... *** conto




Registro de BlogSep 18, '07 3:56 PM
para Maria Antonieta amigos



 
 
*** QUANDO EU ATROPELEI A MULHER... *** 

          Ontem eu me demorei para me preparar e ir pra escola onde ministro aulas. Devido ao calor, demorei-me mais debaixo d'água, sentindo na pele o frescor enebriante da água fria a escorrer por todo o corpo, tirando como que em passe de mágica, a sensação de incômodo calor característico do verão do Paraná. Quando, após vestida e já no carro, dei uma vista d'olhos no relógio, me assustei com o adiantado da hora e tratei de imprimir velocidade maior. Detesto chegar atrasada... Na esquina da avenida Rio Branco com a Marechal Deodoro, um aglomeramento mostra a alteração na rotina do começo da noite. Um atropelamento...! Uma camionete antiga está parada , pisca alerta ligado e portas abertas. Mais adiante, inerme e jogada no passeio vejo uma motocicleta vermelha com a luz traseira ligada. Nossa... Veio-me imediatamente à memória o dia em que eu mesma encenava acontecimento similar.

          Já fazem uns dez anos isto. Chovia, e não se pode chover em Apucarana, o trânsito fica um caos. Estava um caos. Um carro ia mais devagar à direita e, de repente, surge uma mulher saindo da frente desse carro para a minha pista. Buzinei, freei e juro que achei que ela conseguiria se desviar. Não conseguiu... O barulho foi forte e seguido por uma série de eventos um tanto quanto surreais. Meus queridos, que nenhum de vocês que ora me leem tenha passado por experiência semelhante, é simplesmente horrível.
O primeiro evento foi comigo mesma. Bati, parei o carro e, saí correndo até a dona, que jazia no chão, inconsciente. Foi como um impulso, um reflexo, nem sei o que pensei. Só me dei conta do que estava realmente acontecendo quando alguém gritou de longe: "não encoste nela !". Eu já estava com a mão na mulher, ia tentar virá-la e perguntava se estava bem, ela não respondia. Com o grito, acordei do transe.

          Não poderia mexer nela, quando acontece um trauma ou fratura a pessoa deve permanecer imóvel até a chegada da ambulância. Levantei-me, alguém disse para ligar para emergência, um-nove-dois. Liguei, estava tremendo. Disse que tinha atropelado uma mulher e o atendente, percebendo meu nervosismo, ficava perguntando coisa ou outra. Até que disse que outra pessoa já estava ligando e que era para ficar calma. Desliguei o celular, as pessoas em volta continuavam dizendo para que eu ligasse para o um-nove-dois. Disse que já tinha ligado, acho que gritei, não estou certa.Uma viatura da polícia chegou rapidamente, acho que passava pelo local. Antes que eu percebesse, já haviam colocado cones atrás do meu carro para que os outros não batessem na traseira. Os cones me pareceram ter surgido do nada. Só depois me disseram que alguns operários da prefeitura, trabalhando no local, tinham deixado pra trás aqueles sinalizadores que, benvindos aquela hora, marcaram à perfeição o local. A batida não havia sido muito forte, eu estava perto de um quebra-molas naquela avenida, que tinha muitos deles.

          Tive a impressão que a mulher não tinha se machucado muito, mas me assustei quando a policial mandou uma mensagem de rádio para outra viatura dizendo que "achava" que ela não tinha falecido. Para mim, isso era óbvio.As pessoas foram se tumultuando, lembrei daquele samba do João Bosco, "tá lá um corpo estendido no chão", só faltou vir o camelô vender anel, cordão e perfume barato, risos. Um rapaz, creio que se chamava Carlos, foi conversar com a senhora, perguntava se ela estava bem. Disse conhecê-la, Dona Maria, e ser amigo da família. Foi mais ou menos nessa hora que percebi o cheiro da mulher, um cheiro forte, cheiro de mendigo. O cheiro estava impregnado também na minha mão, que havia lhe encostado no momento do susto. A mulher parecia dar sinais de vida, enquanto Carlos conversava com ela. Tinha um pouco de sangue no queixo, foi a única coisa que consegui perceber. O rapaz dizia que conhecia ela e os filhos. um deles havia visto o acidente e estava ali: rosto sem qualquer expressão...

          Enquanto uma outra viatura chegava, Carlos me dizia que os filhos dela eram vagabundos, que já havia até batido em um por não tomarem conta da velha. Ele mesmo tinha um filho deficiente e tomava o maior cuidado possível ao sair de casa com ele, enquanto eles -- safados -- ficavam só bebendo e deixando a velha vagar pelas ruas. Deu a impressão de que era mesmo uma mendiga e que tinha problemas mentais, precisando de cuidados. Disse também que ela tinha um problema na perna, quebrara uma vez e o gesso havia sido tirado precocemente; mancava. O que fazia um certo sentido, já que não teria sido atropelada se andasse normalmente. Como já disse, acreditei até o último segundo que conseguiria desviar-se do carro. A perna deficiente era a explicação. Algo que me comoveu foi fato do Carlos ter dito que o filho que ali estava, ao invés de preocupar-se com o estado da mãe, quis recolher as "pratinhas" que caíram de seu bolso quando do acidente.

          Não percebi isso, mas ele disse que ocorrera, era o mais lúcido da estória. Coisa que achei um tanto quanto estranho foi o fato de todos ali em volta darem razão a mim, e não à senhora no chão. Os que ali estavam diziam que eu não tivera culpa, que andava devagar e que ela teria entrado na minha frente, deliberadamente. Eu até concordava com o fato, mas ficava ali observando, nervosa. Relatava o que ocorreu e não estava tão certa quanto os outros sobre minha inocência. Antes mesmo da ambulância chegar a mulher já se mexia, tentava se levantar. O policial dizia para que ela ficasse quieta e esperasse a ambulância. Segundos depois, ela se mexia de novo. Não tinha um só dente na boca e parecia não entender ao certo o que estava acontecendo. Tive dúvidas sobre o fato de estar lerda devido ao acidente ou de ser assim mesmo, problemática. A impressão é que tinha mesmo problemas mentais, ainda mais pelo que o Carlos tinha dito. A ambulância chegou. Ela foi colocada na maca, com alguns gritos não muito fortes. Seu cheiro exalava.

          Presa na maca, foi levada à ambulância, e de lá ao hospital. Um dos filhos -- o que não vira o acidente e já levara uma coça do Carlos -- foi junto, parecia abalado com o ocorrido. O policial pediu meus documentos e ficou horas para preencher o boletim de ocorrência. Parecia não ter pressa, teria que esperar a perícia chegar. Nestas alturas, minhas aulas tinham ido pro espaço, amigos, mas e eu lá estava me lembrando ou danto valor à isto? A identidade da dona tinha ido para o hospital e foi aí que o próximo evento surreal aconteceu. O policial, prestativo, foi pedir os dados da vítima -- foi o que escreveu no boletim: vítima -- para o seu filho. Mas ele mal sabia o nome da mãe. Data de nascimento, nem pensar. Muito menos o nome do pai dela, seu avô e da avó. Ficou algum tempo pensando e não conseguiu se lembrar. Tive também dúvidas se o rapaz tinha problemas mentais ou estava alcoolizado. Voto na primeira opção. Riu de si mesmo por não saber o nome dos avós. O Carlos e eu rimos junto, para não constrangê-lo. A verdade é que não sabia nada sobre sua própria mãe. Tive pena daquele povo.

          Moravam logo ali atrás, numa favelinha. Carlos ficou como testemunha de que eu tinha razão. Primeiro disse que não havia visto o acidente, só ouvido o barulho. Mas naquela hora aceitou ficar como testemunha de que tinha visto tudo e que eu estava com a razão. O policial perguntou duas ou três vezes se ele realmente tinha visto o acidente. Ele titubeou na primeira e na segunda vez que respondeu a pergunta, na terceira disse mais confiante que tinha visto. Ficou claro, para mim e para o policial, que ele não vira o acidente per si. Fizemos vista grossa, apesar disso. Se ele disse que vira -- mesmo na terceira vez -- é porque vira. O policial ouviu seu relato, pegou sua identidade e seus dados. Preencheu o BO. Quando terminava de preencher o documento, sem qualquer pressa, acontece algo que exige um interlúdio.

          Interlúdio: De repente chega ali um sujeito, que descido de um ônibus, estava com o policial. Estava ligeiramente transtornado. Dizia que haviam acabado de roubar oitocentos reais de seu bolso, no ônibus. Iria pagar uma dívida e estava com todo seu dinheiro. Segundo ele, um rapaz de camisa vermelha era o culpado. Tinha havido uma confusão no ônibus; cheio, chovendo.
          Sim, seria capaz de descrever e de reconhecer o rapaz: alto, camisa vermelha, calça jeans. Primeiro disse que usava um boné, depois voltou atrás, estava sem boné. Repetia consigo mesmo que tinha vacilado: "que vacilo!". Sinceramente, pensei, quem hoje em dia anda com oitocentos reais no bolso? Disse que tinha tirado o dinheiro para pagar o ônibus e o ladrão provavelmente vira a grana. Sim, tinha tentado esconder, até colocou a perna assim ó, mostrou, mas ele devia ter visto, que vacilo! O policial fez, calmamente, sua parte. Ligou para outra viatura e relatou o fato, o ladrão tinha descido do ônibus em uma esquina fornecida pelo assaltado.

          Alguns minutos depois essa outra viatura chegou lá, não haviam visto ninguém com essas características e estiveram por lá o tempo todo, teriam visto algo. Tive uma certa impressão de que o sujeito queria conseguir algum documento, como um boletim de ocorrência, que provasse que tinha o dinheiro, mas que havia sido assaltado. Mostraria isso para o credor e pediria mais alguns meses para pagar. Não sei se é desconfiar demais, mas a estória estava muito mal-contada. Quem é que anda com oitocentos reais junto com o dinheiro do ônibus? Ou realmente era um grande vacilo ou uma grande sacada. Os policiais levaram-no na viatura, não sei se para a delegacia para descrever o assaltante ou para tentar encontrá-lo perto do local do furto.

          O calmo policial agora escrevia o histórico do acidente. Perguntou-me o que acontecera, relatei. Perguntou também para o Carlos que, àquela hora, já estava louco para ir embora cuidar de sua vida. Fiquei extremamente tentado a ler o que o policial escrevera, mas não tive coragem de fazê-lo. Fiquei de longe, esperando pacientemente. O filho da dona ainda estava por ali, ia e vinha de vez em quando. Saiu com o Carlos e só voltou um pouco mais tarde, quando a perícia já havia chegado. Dois policiais civis mediram a largura da rua, observaram os danos no capô do carro e a distância entre o carro e a posição onde a vítima estava. Tiraram uma foto e um deles entrou no meu carro para verificar o freio e mais alguma outra coisa. Não ficou trinta segundos lá dentro. Conversei um pouco com ele, era boa gente. Disse que também já havia atropelado uma vez, que isso acontecia e que não era para eu me preocupar. Perguntei o que poderia me acontecer e ele disse que poderia ser instaurado um inquérito, mas ele achava pouco provável. Recomendou-me ir ao hospital ver a mulher e conversar com o médico, pegar seu nome, talvez ele dissesse que ela estava bêbada.

          Isso poderia facilitar as coisas para mim se houvesse algum problema judicial.Os peritos foram embora, voltei para conversar com o policial, pedi o nome da dona para que eu fosse ao hospital. Conversamos mais um pouco sobre qualquer coisa e ele foi embora, sem me dar o nome dela, esquecemos. Segui meu caminho também, dirigindo com mais cuidado do que nunca. Liguei para minha advogada particular, que me disse ter feito o que podia, prestado socorro e feito os trâmites legais. Se a mulher não morresse, provavelmente não aconteceria mais nada. Recomendou-me a não ir ao hospital, ela poderia tentar me extorquir ou coisa do gênero. Como também não tinha o nome, deixei pra lá. Fui para o trabalho, lavei as mãos e toquei a vida, espero que ela tenha melhorado.
Epílogo: Retomando meu caminho para a faculdade -- ainda ligeiramente transtornada --, acabei por passar perto da esquina onde o vacilão havia sido assaltado. Juro que vi um sujeito alto, vestindo camisa vermelha e jeans, conversava com uns policiais. Sorriam todos, alegres... claro que pode ter sido coincidência.... risos.

          Passei bem vagarosa pelo local.. Desejei, mentalmente, sorte aos envolvidos, engrenei uma marcha mais forte e, sei lá porque, acelerei olhando para os lados da esquina... calça jeans e camisa vermelha... ora essa..
 
          MariaAntonietaRMattos
        fevereiro de 1996
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*** 1966...*** conto






*** 1966...***


           


          Gente, quem tem mais de 45 anos vai se sentir em casa... pra quem tem menos... risos, uma lição de história antiga...rsrs..

     I

         
Apucarana, qualquer  domingo de 1966..

          Acordo meio tarde.. Não podia ter deixado de assistir o seriado dos Invasores primeiro, ontem, começando tarde já.. 22:00hs e acabar a noite, sob olhares de reprovação de meu pai, vendo o Elliot Ness dar mais uma surra na turma do facínora Al Capone.... "Os Intocáveis " acabou mais de meia noite..Ah!! e David Vincent conseguiu segurar a onda mais uma vez, estragando mais um plano para dominar a terra, perpetrado pelos invasores. Corri até o quarto de meus pais e dei um beijo em cada um para ir deitar. Consegui pegar uma calcinha de minha irmã no varal, sexta feira, e tenho dormido com ela... A mesma velha sensação de relaxamento e indescritível sensação de bem estar se espalha por todo meu corpo assim que, por baixo do lençol sinto minhas pernas nuas em contato uma com a outra... Sou uma mulher, vario em sonhos de erotismo... Puxa vida, esquecí de rezar... Meu Deus do céu.. e agora, com esta calcinha? Será que Deus vai ficar zangado comigo por estar usando-a.. Por via das dúvidas é melhor tirá-la para rezar. Rezo o pai nosso, coloco a calcinha de novo e me cubro rapidamente.. Ouço minha irmã a gritar de lá do quarto dela... - "Bença pai!!"... "Bença mãe".. Durmam com Deus, pai e mãe...

          Eu rolo um pouquinho pra cá e pra lá.. Não conseguirei dormir se não o fizer também... Estou achando meio ridículo mas meio com sono me vejo gritando também... "Bença pai"... "Bença mãe"... durmam com Deus, pai e mãe... risos... Domingo... Quase oito horas... O cheiro de café entra no meu nariz e me acordo de vez. A Delfina ( nossa empregada) canta a pleno pulmões uma música que está fazendo o maior sucesso.. Wilson Simonal e "Meu limão, meu limoeiro". Nós temos até o disco long playing onde ele canta esta música e eu a acho muito legal. Trato de pular da cama e a primeira coisa que faço é esconder, debaixo do estrado da cama, a ex-calcinha de minha irmã. Vou pro banheiro, tiro o pijama de flanela todo amarrotado na parte de cima, apresentando a calça ainda passadinha... risos. Hoje o dia promete!! Entrou em cartaz no cine Guarujá um filme que meus amigos disseram que a gente se parte de rir.. "A Corrida Do Século" onde, segundo o Nestor, meu colega de 1º Científico, foi um dos que assistiram parte do filme quando o Napoleão estava colocando os rolos nos projetores.
          - Até a a torre Eiffel é destruída por um professor muito louco, diz-me ele entre risos...

          NÃO POSSO PERDER!! Armo a estratégia enquanto tomo café apressado. Vou à missa das oito primeiro... assim eu faço uma média com Deus e com minha mãe que vive me observando demais nos últimos tempos...Não tenho me acerta do muito bem com a química do Caldini e a física do professor Florindo, mas tudo faz parte! O Duro é aguentar o Padre Leonardo falar com aquela vozinha de velhinho dele, e em latim. E, apesar de eu ter sido coroinha por 3 anos e saber repetir todos os refrões, não sei patavinas do que estão falando!! Volto da missa mostrando uma jovialidade absolutamente desproporcionada e descabida. Meu pai está na mesa de café lendo "O Estadão" e escutando na Bandeirantes, o Vicente Leporace contando todos os crimes hediondos que aconteceram em São Paulo de ontem pra cá. Meus velhos trocam olhares de entendimento entre eles. Só muito tempo depois, risos.., quando meu filho fez o mesmo caminho, pude entender o tamanho do discurso que tinha rolado entre eles naquela simples troca de olhar. Descobri que o nosso Aero Willys, lavado no final do dia de sábado e guardado na garagem de casa, estava muito sujo e que eu, estando mesmo à toa, poderia perfeitamente dar uma passada de água com sabão no carro e deixar as faixas brancas limpinhas como meu pai gostava.. O jornal abaixa-se e por trás dos óculos, novo olhar cruzado entre a mesa e o fogão da cozinha. Quando meu pai baixou o périódico para, com voz empostada de autoridade me alertar que sou menor de idade, não possuo carteira de habilitação e nem estou indo tão bem assim na escola, que me dê o salvo conduto para umas voltas com ele do lado, desarmei-o com um olhar inocente e disse que ele tinha toda a razão. Que eu não iria lhe pedir o carro emprestado. Ante a surpresa dele e de minha mãe detonei o final da conversa...

          - Queria apenas ir ao cinema na 2º sessão...

        II         Um pequeno intervalo gente... Claro que o que ficticiamente está se passando nesta narrativa, tem muito da realidade de minha adolescência e, se não ocorreu exatamente desta forma, creiam-me... não foi muito diferente..No meu caso as cores tem uns tons um pouquinho diferentes, menina, sem deixar de nos dar um gostinho amargo e doce de saudades e lembranças. eu ficava a semana toda me cuidando e "sendo" bonzinho em casa porque se nada tivessem a declarar contra mim, o Aero Willys acabava sendo meu no fim de semana, depois de todo um ritual... risos. Moro ainda, como morava na época, em uma pequena cidade do interior onde 20.000 almas se conheciam e todas se inter relacionavam. Duas sessões de cinema no domingo.. Uma às sete, para a moçada mais nova e que tinha que ir pro colégio logo cedo, na segunda... A outra, mais tarde, aí pelas nove horas, era o supra sumo do final de semana. Assim que acabava a primeira sessão e o "seu" antônio abria a portaria... entrávamos em bandos... As moças sentavam-se recatadamente em lugares escolhidos alhures, colocavam-se expressões de enfado nos rostos e pareciam extremamente "entendiadas-com-tudo-isso". Os rapazes... risos... ficavam subindo e descendo pelos corredores do "Cine Guarujá" olhando de rabo de olhos para as cadeiras, marcando lugares e tal... Uma música do Ray Connif marcava o início da sessão... As luzes se esmaeciam e um projetor "meia boca" começava a mostrar as camas e guarda roupas das "Casas Progresso"... risos...A fotografia que mostra a loja em um canto superior, estampa a fachada da loja como era há 15 anos atrás. Seu proprietário, "seu" Ataídes, sovina conhecido por toda Apucarana, se recusou a tirar uma fotografia nova da sua loja, de forma que lá está, em frente às portas de entrada, um palanque de madeira de eucalipto, próprio para amarrar os animais de fregueses. O Napoleão, encarregado do projetor, sempre de latão cheio, invariavelmente colocava os slides ao contrário ou de cabeça pra baixo... quando isto ocorria, as vaias eram certas...Meu Deus... assim que as luzes deixavam de incomodar, os rapazes, como que por mágica, já estavam sentados de "bonde" ao lado das felizardas... risos..Isto tudo... só na sessão do Cine Guarujá....

    III
        E lá estou eu, ingresso na mão(1/2) e carteirinha da UNE na outra. dizem que em São Paulo e mesmo em Curitiba, esta carteirinha não vale mais nada. Fomos então avisados pelo diretor Fred, que no nosso caso, as carteirinhas continuarão valendo desde que jamais apareça algum estudante comunista no Colégio Estadual. E quem é louco de ser comunista? Pra perder a carteirinha?... Esses caras não batem bem da idéia... definitivamente... Depois de toda a "sessão" ocorrida como expliquei acima, O ruído desagradável do projetor meia boca para bem no meio do comercial do sorvete "Q Delícia".. Uma escuridão demorada já nos indica que o napoleão está de fogo, pra variar,..risos. Então a tela se ilumina e aparece aquele morro no fundo de um vale. Ao som de Chô..Chô...vaiado por todo mundo na sala, uma ave de rapina alça vôo, atravessa a tela e, sem nos dar a menor confiança, se transforma em um letreiro que nos informa ser da CONDOR aquela fita.. Ah amigas... quantas saudades... O filme acaba e vamos todos tomar iogurte, farinha láctea ou uma "Cerejinha" na lanchonete "São João". Depois... de trote pra casa. Tenho coisas interessantes sob o estrado da cama e amanhã cedo o Florindo estará mandando bala logo na primeira aula... suspiros...
        Este foi um dia qualquer de domingo...1966.

        Um beijo pra todos..
        MariaAntonietaRdeMattos.
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*** OS ÚLTIMOS DIAS DE POMPÉIA *** conto




                               Arte feita pela Diana com algumas de nós e Pompéia


          Meus queridos, escrevi isto na data abaixo e já coloquei aqui algumas vezes... Só pra encher o útero estou colocando de novo...rsrs
                Apucarana PR, 03 de Março de 2005.

          Amigos sedentos de saber..
          Com um sol forte que tomei hoje, inspirei-me em aumento de temperatura. Daí veio-me Pompéia na cabeça. Resolví fazer um estudo em vermelho (sem influência de Sir Conan Doyle), e saiu isto aqui abaixo...
*** OS ÚLTIMOS DIAS DE POMPÉIA ***

          3 de Janeiro de 79dc          Está um lindo dia em Pompéia, uma próspera cidade do império romano à beira do Mediterrâneo.
O dia está ensolarado, as gaivotas voam sobre o porto, os conspiradores conspiram, os escravos trabalham e uma leve brisa agita as togas os moradores. A cidade está em plena atividade porque ainda não foi inventado o Natal nem o Reveillon. Também não é necessário esperar pelo carnaval, pois ele também não foi inventando ainda, apesar de muitos moradores serem adeptos dos cultos a Baco, chamados de bacanais. A religião era bem mais divertida naquela época.
          Aqui começa uma coisa interessante... Os patrícios (elite romana, mais ou menos como a diretoria de hoje em dia) Caius Flavius e Caius Augustus se encontram na praça do mercado, a caminho de seus escritoriuns. Caius Flávius, secretamente mantém uma doma travestius... ele é uma CD Romana. Pois bem, ele seu amigo Caius Augustus, que também não se faz de rogado quando está a sós em seu tricliniun, vestindo-se a rigor com as sedas vindas do Império do Oriente, se tratam, entre sí como sendo Cris Campuum e Bruna Romanellum. Eles são integrantes de uma sociedade secreta de mesmas tendências que, no Império Romano é conhecida por uma palavra que ainda não foi inventada, mas que é conhecida entre as iniciadas como Bececeum. Eles (elas) dialogam...

          - Ave, Romanellum!
          - Ave, Campuum! Como está em uma manhã tão agradável?
          - Não muito bem. Lestes as notícias?
          - Que notícias?
          - Saiu no pergaminho Valorus Economicus. O império pretende vender Pompéia.
          - Ah, deve ser um boato...
          - Não sei.. vou ao meu escritorium despachar alguns mensageiros e ver o que eu consigo descobrir.Esta semana viajei de biga até Santus Paulus. Fiquei longe das notícias.
          - Ah!! Minha cara, .. haverá um bacanal hoje na doma do senador Apalpee Fiquefríu, você pretende ir? Ouví dizer que ele trouxe de Siracusa uma galera abarrotada de escravas Núbias!!
          - Não..não... Hoje à noite pretendo participar de uma Cd Sessiun com o decurião Bancandus Travecus. Ele está sozinho agora. Sua mulher foi à uma cerimônia vestal em Herculano, de forma que pretendemos nos montar na doma dele. Depois iremos até a Dominum, uma insulae permissiva de última hora. Existe uma horda de eunucos especialistas em vergastas e pompoarismo por lá...
          - Pompoarismo?... o que é isto?
          - Coisas da França decadente. Mademoiselle Carla Mel poderá fornecer maiores detalhes daqui a alguns séculos, por ora apenas tenhas ciências de umas bolas infernais...
          - Bem, vou indo... Eu não me preocuparia em seu lugar...com estas notícias de venda.. Habetis bona deum!! (Tenha um bom dia)...

        
5 de Janeiro de 79dc
          - Ave, Cris Campuum. O que a traz ao meu humilde escritorium tão cedo?
          - Ave, Bruna Romanellum, como você pode estar tão calma? Não lestes as notícias?
          - Que notícias?
          - Exatamente, não saiu nenhuma notícia!
          - A assessoria de imprensa não se manifestou, então fui falar com eles ontem à tarde.
          - E o que eles disseram?
          - Não entendi muito bem, por que eles estavam a bordo de um barco saindo do porto, mas parece que eles gritaram algo como um “boato recorrente”.
          - Barco? Eles foram para alguma convenção?
          - Não sei, mas na porta do escritorium da assessoria de imprensa tinha um aviso.
          - O que dizia?
          - Vende-se.
          - Isto me parece um mau augúrio, Cris Campuum...
         - A mim também Bruna Romanellum. Alguma resposta de seus mensageiros?
         - Ainda não, mas hoje em dia os mensageiros demoram. Eles são obrigados a tomar banho antes de entrar em qualquer prédio para garantir que não estão trazendo vírus.
          - O que é um vírus?
          - Não sei. Os microorganismos só serão descobertos no século XIX por Louis Pasteur. Meus mensageiros estão espalhados por todo o Império vendendo Uma poção nova, conseguida com druídas da Gália que está fazendo sucesso, amiga. eu mesma estou me alimentando apenas deles agora. Quer um pouco? "Estratus Capinis"...
          - Não, não... Tenho me esbaldado com cuias e mais cuias de chimarrão... delícia!! Dizem os entendidos que o produto vem de além das colunas de Hércules, trazidas por aqueles bárbaros nórdicos conhecidos por Vikings... "terra brasilis" me parece a origem. Mas estou tergiversando, querida, o que podemos fazer, então?
          - E se perguntássemos para o prefeito da província?
Entra um mensageiro (o telefone só seria inventado no século XIX por Alexander Graham Bell).
          - Ave patrícios! O prefeito da província os convoca para uma reunião urgente amanhã pela manhã no fórum!
          - Parece que as notícias voam, não é mesmo, Cri... ahn..Caius Augustus?
          - Com certeza, Caius Flavius!!

          
6 de Janeiro de 79dc
          O pequeno auditório está apinhado de patrícios ansiosos por notícias. Os escravos carregam bandejas de um lado para o outro e na medida do possível esticam as orelhas para obter alguma informação que possam passar para frente na hora do café. O prefeito Dianus Casadanus, (Que o oráculo proclamou a inversão do nome original por ser gaélico e sugerir o oferecimentos estranhos em sua doma) inicia a reunião de emergência. Faz-se um silêncio sepulcral.
          - Ave patrícios. Convoquei essa reunião em face das notícias perturbadoras
que foram veiculadas nos últimos dias.
          - Nobre prefeito?
          - Sim, Caius Augustus?
          - E sobre as notícias?
          - Sim?
          - O que o nobre prefeito tem a nos dizer sobre as notícias?
          - Eu não tenho nada a dizer. Chamei vocês aqui para que vocês me contem o
que sabem.
          - Mas nobre prefeito, não sabemos de nada concreto. A assessoria de imprensa está ausente e o Valorus Economicus não cita suas fontes. Ouvimos comentários sobre a veiculação estar atrasada devido ao fato de que apenas no começo do mês a webmaster mexe no site!!
          -Webmaster? Site?.. Circe te encantou também? Recuso-me a continuar esta conversa de doidivanas.
          - Circe?... Mas ela nem é romana!!
          - Não importa!!...
Diversas discussões se iniciaram pelo fórum.
          - Nós somos uma província lucrativa?, por que vender?
          - Além do que, já estamos aqui há 140 anos, por que vender Pompéia agora?
          - Aposto que isto tem a ver com aquele história de “risco província” que os astrólogos do imperador estão pregando agora...
Caius Augustus interrompe a discussão:
          - Nobre Casadanus o que devemos fazer para descobrir a verdade então? Afinal, o que é a verdade?
O Prefeito Dianus empertigou-se:
          - Sugiro que todos tomemos uma taça de vinho, afinal in vino veritas (no vinho está a verdade). Após colocarei minha cítara de cordas para funcionar. Ela tem um rolo novo com canções de Edit Piaf..
Show!!
          -Edit Piaf?
          -Quem é Edit Piaf nobre Dianus?
          - Não interessa caro Caius Augustus. Maiores informações só com Mademoiselle Carla Mel daqui há alguns séculos...!!

         
7 de Janeiro de 79dc
          Caius Flavius e Caius Augustus voltam a se encontrar a caminho de seus escritoriuns. Como estão sozinhos na via Cesarea.. se tratam femininamente, claro...
          - Ave, Cris Campuum.
          - Ave Bruna Romanellun. A reunião de ontem não foi grande coisa, não é mesmo?
          - Spucatum Tauri (excremento bovino).
          - Também achei. Alguma resposta de seus mensageiros, Romanellun querida?
         - Eles retornaram bastante asseados, mas sem nenhuma novidade.
          - Sabe o que eu acho?
          - Que as notícias são procedentes...
          - Exato.
          - O que fazemos então? Vamos pegar o próximo barco para Cartago?
          - Não sei ao certo. Por certo o império pensará em seus cidadãos, não?
Seremos beneficiados pelo imperador se ele realmente conseguir vender Pompéia.
          - Você tem razão. O imperador ama seus fiéis súditos.

         
10 de Janeiro de 79dc
          No meio da manhã um mensageiro com uma escolta armada entra em Pompéia aos gritos:
          - Recidite, plebes! Gero rem imperialem! (Saia da frente plebe, eu estou a serviço do imperador).
Ao chegar na praça do mercado ele desenrola um pergaminho de aparência importante:
          - Por decisão de sua graça imperial, todos os cidadãos de Pompéia estão proibidos de deixar a cidade.
          - Os soldados da guarda pretoriana estarão guardando as saídas da cidade e irão executar quem tentar burlar esta proibição.
          - Habetis bona deum (Tenha um bom dia).
          - Cris Campuum?
          - Sim.
          - Acho que isto acaba com o “se”.
          - Sim. Acho que devemos rever também aquela história de que o imperador ama seus fiéis súditos.

         
18 de Janeiro de 79dc
          Caius Flavius convocou uma reunião secreta com os patrícios mais iminentes de Pompéia.
          - Caros patrícios, acho que não resta dúvida que o império deseja se livrar de Pompéia. A questão é: o que devemos fazer?
          Caius Augustus sugeriu:
          - Acho que poderíamos tentar dissuadir o imperador, mostrando que Pompéia ainda tem muito a oferecer.
          - Como o que? – Perguntou Paulus Andreus, que habita a faixa mediterrânea e se especilizou na idealização de insulaes e domas para os patrícios abastados de Roma.
          - Bom...
          - Estamos ferrados. – Sentenciou Paulus.
Caius Flavius tentou animar os patrícios.
          - Se hoje não temos algo que interesse ao imperador, vamos criar algo que o interesse.
          - Como o que? – Perguntou Paulus Andreus novamente, o que está na moda hoje? Vamos analisar as tendências..eu tenho uns terrenos baratinhos em São Miguel Paulista.
          - Por Júpiter, não diga bobagens homem.Quem quer saber de São Miguel Paulista? Melhor Belfort Roxo!! é perto do piscinão de Ramos, Exclama Caius Flávius
          - Que tal fazermos um HEF Nas margens da Via Ápia tem ótimas estâncias hidricas!! Uma núbia de nome Denisea Tainarus está gestionando com César um evento pra meados do ano!
          - Legal, Dianus Casadanus. Mas estamos querendo uma coisa pra Pompéia!! Algo que não seja muito coloquial..!! A Via Ápia é longe daqui!!
          - Muita gente fala da Palestina... – Propôs timidamente Vicus D'Avillus, um questor do império.
          - Isso mesmo! O que tem a Palestina que nós não temos? – Animou-se Caius Flavius.
          - Alta tecnologia: terrorismo e a religião monoteísta. Coisas para os mercados do futuro. – Sentenciou Dianus novamente.
          - Eu já li a respeito deste negócio de religião monoteísta, me parece uma tendência forte. Por que não estudamos o assunto? – Interveio Caius Augustus
Dianus Casadanus não melhorou seu humor:
          - Precisaríamos de um investimento muito grande em infra-estrutura: desertos, sarças ardentes, maná dos céus, o Mar Vermelho se abrindo... Não temos capital para investir nisso, além do que demora até o negócio engrenar. A concorrência está muito à nossa frente.
          - Acho que o Dianus tem razão, além do que precisamos de um projeto de curto prazo.- Admitiu Caius Flavius.
Segue-se um longo silêncio, quebrado apenas quando Marinus Montenegrus, o dono de hospedarias sentenciou solenemente:
          - Turismo.
           - Como assim, turismo? – Perguntaram vários ao mesmo tempo.
          - Vamos tornar Pompéia um centro de turismo. O maior do império! Já temos quase tudo, só precisamos de um diferencial.
          - E o que seria? – Perguntaram vários ao mesmo tempo.
          - Um vulcão.
          - Um vulcão? – Perguntaram vários ao mesmo tempo novamente.
          - Sim, existe algum vulcão ativo na Europa?
          - Não... – Responderam timidamente alguns.
          - Logo... Vai ser um sucesso!
Enquanto os patrícios digeriam a idéia, Caius Flavius perguntou:
          - Perdoe-me a ignorância, caro patrício, mas como se faz um vulcão?
          - Não é tão difícil quanto parece, basta uma montanha e um pouco de mágica, você sabe, conquistar os favores dos deuses e coisa e tal. Podemos usar o monte Vesúvio, que é aqui pertinho.
          -Tratar com os deuses é comigo mesmo!!, exclamou Dianus Casadanus
Caius Flavius não se animou:
          - Acho que não dominamos este tipo de metodologia, precisamos contratar uma consultoria...

         
27 de Janeiro de 79dc          Por uma incrível coincidência (para quem acredita em coincidências) um mago itinerante estava passando por Pompéia naqueles dias.
          JJorgetus Delrius, o mago, hospedou-se com Marinus Montenegrus que compartilhou
com ele o seu projeto turístico.
          O mago declarou que era possível fazer cumprir os objetivos do projeto, seriam necessários apenas sete meses. Bastaria conquistar os favores de Netuno ou Vulcano, um desses aí, com uma série de rituais que ele dominava totalmente, afinal possuía certificação PMP (Powerful Magician Professional). Mas ele precisaria contar com o apoio de Dianus Casadanus que tinha conhecimentos extras sobre as divindades.
          Ele propôs cobrar apenas trezentas moedas de ouro e duas escravas (além da hospedagem, alimentação e transporte) – uma pechincha. Marinus, consultou-se com Tata Purgantus, sua mulher e correu a oferecer a proposta para os outros patrícios que a aprovaram alegremente. Se eles conseguissem implantar o projeto de turismo rapidamente, talvez Pompéia não tivesse que ser vendida! E eles ainda lucrariam bastante com os novos negócios. A coincidência mais tarde revelou-se um tremendo azar (para quem acredita em azar) para os Pompeienses, mas com consultorias é assim mesmo, na hora da contratação tudo é uma beleza, na hora de executar o projeto...

         
18 de Maio de 79dc
          Apesar de o projeto de turismo estar indo bem, as notícias continuavam a surgir e Caius Flavius demonstra sua preocupação para Caius Augustus:
          - Não sei não, Romanellum, você viu a lista de interessados?
          - Não. Quem são?
          - Ninguém diz ao certo. Mas parece que existem quatro interessados. O mais forte é a Horda Suprema.
          - Os vândalos?
          - Quase. A da Babilônia e Cítia.
          - Mas a Babilônia é do outro lado do mundo.
          - Tecnicamente quem fica do outro lado do mundo da península itálica é a Nova Zelândia, mas ela só vai ser descoberta pelo Capitão Cook no século XVIII. Mas entendo o que você quer dizer.
          - Achei que eles não queriam mais negócios em território romano...
          - Este negócio de globalização é esquisito. Uns saem, outros entram. Não dá para entender. Mas eles são uma Horda, afinal. O negócio deles é crescer na base das aquisições.
          - Eu fico preocupado... Quando a Grécia adquiriu Tróia não deixou pedra sobre pedra.
          - É, eu me lembro dessa. Pegou mal, né? O mercado ficou falando disso um tempão.
          - E se procurássemos uma empresa de recolocação?
          - Eu entrei em contato com uma dessas empresas uma vez. ela estava tratando de resgatar um submarino nas águas do Rio Amazonas.
          - Nossa... Submarino? Rio Amazonas?
          - É..displicentemente eu ouvia cítara de rolo na doma do Prefeito Casadanus e ví um pergaminho em gaélico da Bretanha. Quase não domino esta língua bretã, então comecei a perguntar e ele me disse que ainda pretende esperar nascer um tal de Champolion para possível tradução. Mas também é assunto que só acontecerá daqui há muitos séculos..
          - Ok!! ( Notem amigas que foi a primeira vez que esta execrada palavra foi dita debaixo dos céus), mas e aí?
          - Quando cheguei no lugar marcado para a entrevista alguém gritou:
Catapultam habeo. Nisi pecuniam omnem mihi dabis, ad caput tuum saxum immane
mittam (Eu tenho uma catapulta. Me dê todo o seu dinheiro ou vou atirar uma
enorme rocha na sua cabeça).
          - Bando de picaretas!
          - Podes crer!

          
24 de Agosto de 79dc
          Pode-se que a implantação do projeto de incentivo ao turismo dos cidadãos de Pompéia foi um sucesso. Tecnicamente. O único problema foi um pequeno erro de escala. Isto nos mostra os problemas que podem advir de um escopo mal definido...A erupção simbólica que deveria marcar o início das atividades do Vesúvio Resort acabou por soterrar a cidade sob vários metros de lava e cinza.
          Caius Flavius e Caius Augustus estavam fora da cidade em uma viagem de negócios tentando fechar parcerias com empresas de transporte. Apesar dos resultados do projeto não terem atingido o que era esperado, eles puderam usar o que aprenderam em novas iniciativas. Com o tempo eles abriram um rentável empresa de consultoria (CACF Consultores Associados) e mais tarde eles escreveram em parceria o primeiro livro de gerenciamento de projetos do Império Romano.
          Marinus Montenegrus e sua esposa Tata Purgantus, infelizmente estava na cerimônia de inauguração e não escaparam da erupção. Ironicamente ele tornou-se uma atração turística quando Pompéia começou a ser desenterrada, em 1860.
          A Horda Suprema processou o império romano por quebra de contrato, visto que eles não conseguiram tomar posse de Pompéia, apesar de já terem feito o pagamento.César mandou entregar ao embaixador da Horda uma pá.
Por incrível que pareça o mago JJJorgetus Delrius e o prefeito Dianus Casadanus sobreviveram à erupção sem nenhum arranhão. Na verdade, eles ficaram apenas com uma cicatriz psíquica. JJorgetus e Casadanus tomaram o primeiro trirreme com destino ao Rio de Janeiro, que por esta época estava totalmente livre de garotinhos e Caixas d'água. Viajaram na boa companhia de um senador de Roma caído em desgraça, desejoso de praticar boa política em ares mais amenos.. O Senador de Roma Euricus Mirandus. Nas gerações seguintes se deram um pouco melhor , mas isto é outra história.
          Pronto gente... História verídica de uma pequena parcela do triste fim de policar.. Ahn... Pompéia
         Espero ter trazido conhecimentos
úteis à todos!!
         Da amiga erupcionada...
            MariaAntonietaRdeMattos.

*** CHORANDO O CIRCO *** crônica




Sep 21, '07 11:48 AM
para Maria Antonieta amigos
           *** CHORANDO O  CIRCO ***
               Gente do céu, como as coisas mais importantes e mais singelas, aquelas que nos trazem, de dentro da alma, as memórias tão caras de tempos vividos, voltam para nós como uma onda esmagadora, um tsunami emocional, inundando repentinamente a lacuna esquecida e relegada de nossas infâncias.. Eu estava   ontem, aqui mesmo no pc, a tricotar com uma amiga querida quando um som vindo da rua me chamou a atenção. Num crescendo, o som se avolumou e uma velha e fumarenta Rural Willys despontou na esquina de minha casa. Dois alto falantes, daqueles de lata.. risos... estridentes como só eles conseguem ser, zubiam e gritavam para quem quisesse ouvir e para os que não quisessem também; que o CIRCO GARCIA tinha chegado na cidade, prometendo um espetáculo como jamais se vira.
           Imediatamente me veio à lembrança meus tempos de meninice. Meu Deus que saudades.. Isso mesmo ! Quem não tem saudades do circo ? Quem não guarda, lá dentro, no mais profundo da alma, uma saudade-menina da primeira alegria sentida no circo ? Quem não se lembra do primeiro velho palhaço de roupas coloridas, frouxonas, cheias de longos babados, espicha-encolhe, querendo cair a toda hora ? Quem não se recorda do palhaço mais novo fazendo negaças,  pisca-piscando, equilibrando como um joão-bobo, piruetando em volta de si mesmo, triste e alegre ao mesmo tempo ? Quem não conserva na mente a visão das moças bonitas, dos meninos e rapagões bem alimentados, do forte e grisalho dono do circo, domador vestido de preto lamê, de todos a sustentarem com força o equilíbrio do mundo? Quem não se lembra ?
          Claro, que cada um terá um universo de lembranças de um novo ou de um velho circo, dependendo de onde nasceu e de onde viveu os primeiros anos de vida, em cidade pequena ou cidade grande. Em nossas lembranças haverá sempre um circo. Circo pobrezinho de chão de poeira, de lona furada e sem cores, de leões já velhos sem dentes, de bicicletinhas velhas, ou então de uma visão de brilho, de rico luxo, de madrepérolas, com mágicos importantes a criar mil fantasias de coelhos e bandeiras, com moças vendendo saúde, meninos louros voando em trapézios, tudo mais parecendo um sonho acordado. Claro que cada um de nós guardará uma forma lírica de lindas lembranças, uma saudade gostosa do primeiro encontro com o circo, jamais desfeita de nossa memória e de nosso coração... Nada há mais delicioso do que o primeiro espetáculo de circo.
          Não fui, mesmo tendo nascido em Apucarana, uma cidade pequena, um menino que entrasse de graça nos circos. Primeiro porque não tinha jeito de correr atrás do palhaço, gritando a propaganda para ganhar a entrada. Segundo, porque não tinha coragem de entrar por baixo do pano, escondido, como faziam os colegas de escolas e da rua. Meu pai tinha sempre que pagar meus ingressos, quando eu não conseguia ganhar dinheiro vendendo coisas na feira, nas manhãs de Sábado. No circo, com ingresso pago, eu entrava sempre de roupa limpa bem engomada por minha mãe, sapatos brilhando, cabelos lisinhos de glostora ou de brilhantina, (Secretamente usando umas gotinhas de Tabú da Dana, emprestado da penteadeira de minha máe..rsrs) levando a melhor cadeira de nossa sala-de-visita. Menino que entrasse sujo, descalço, quase sempre tinha que ajudar o palhaço, ou mesmo servir de amarra-cachorro nos momentos de intervalos.
          Eu já primava por um comportamento diferenciado... risos. Enquanto os meninos tentavam se matar mutuamente nas arquibancadas do circo, eu ficava comportadinho em um canto, rodeado de meninos quietos como eu mesmo. Resolví que iria ver o dito espetáculo amigos.. O circo já tinha visto dias melhores. Não era um daqueles grandes que eu já tinha visto nos terrenos baldios perto da estação de manobra de trens. Pobrezinho, de lona quase caindo aos pedaços, um chão poeirento que fazia dó e as rquibancadas tão velhas que o próprio vendedor de ingresso chamava-as de poleiro. A trapezista e o equilibrista – coitados - a gente não sabia se admirava ou tinha pena!.. Mas que coisa gostosa, quanta saudade matava na gente ! O que estava em Apucarana também era um circo ! Era um circo e tinha palhaço ! Um palhaço, mesmo descalço como o daquele pobre circo, representava um mundo de fantasias, um maravilhoso elenco de gestos e trejeitos, uma poesia eterna de um doce sofrimento que, mesmo para o desprezados, fazem da vida um alegre motivo de viver !
          Choro pelo circo.. As troupes que entravam pela cidade arrebatando corações, fazendo-nos sonhar com um mundo de magia, não existem mais.. Uma paródia dos velhos tempos ainda rosna, sem dentes, para a televisão massificadora que além do circo, destruiu a convivência familiar..
Um palhaço, sabendo ganhar e sabendo perder, sempre com esportiva e bem conformado, é o que mais representa, ainda, o circo.,E é um pouco de tudo que todos nós deveríamos ser, talvez, como a única maneira que poderíamos agir para nunca deixarmos de ser felizes...
         Um beijo à todos...
        MariaAntonietaRdeMattos.                      2006

 

*** COMO NOSSOS PAIS *** crônica




Sep 22, '07 9:03 AM
para Maria Antonieta amigos



*** COMO NOSSOS PAIS ***
 Apucarana Pr, 06 de Março de 2005.

Amigos,
Nem em sonhos experimentem vir morar em Apucarana... risos. Lugar tranquilo e bucólico, onde a gente conhece a todo mundo, peca terrivelmente por ser o que é... bucólico. NADA acontece aqui. Montar-se e sair na noite Apucaranense?... boites GLS em Apucarana?..rsrsrsrs... acaba o mundo primeiro!!
Daí que invariavelmente vou pro Home Teather, ou pro meu som (Alô Suzy!!... sou dinossaura também... das pequenas mas tenho mais de 500 lps viu?) ou me sentando ante a telinha do PC, dou tratos à bola.Dia destes eu ví uma crônica do Eduardo Mascarenhas onde o articulista aproveitou a música "Construção" do Chico Buarque para escrever sobre a sociedade. Hoje, euzinha, muito menor que o Eduardo,  ouvindo a Elis em sua fantástica e inigualável interpretação de "Como nossos pais" resolví escrever esta crônica ... risos... Daí que ficou meio que assim... ó..!!
    Acho um pouco pedante falar somente de assuntos científicos e discussões altamente técnicas -- as coisas que aprendi nos livros -- durante uma roda de conversas, seja com amigos ou nos fóruns. ---Prefiro contar como eu vivi e tudo que aconteceu comigo, ---falar sobre minhas aflições e angústias; assim como ouvir as dos outros.  
          Discutir literatura ou ciência são sim coisas interessantes, mas devemos nos--- lembrar que qualquer livro é menor do que a vida de qualquer pessoa. ---Portanto, discutir sobre a vida na maioria das vezes é mais interessante e agradável do que realizar discussões técnicas sem sentido. De fato, não fomos moldados pelo cego processo evolutivo para sermos cientistas, literários ou profissionais quaisquer.
          A evolução, através de nossos genes egoístas, nos moldou para cuidar de nossos semelhantes genéticos, para nos reproduzirmos, para passarmos adiante nosso legado biológico sem que o peso dele venha a nos sufocar. Nós, assim como todas as outras espécies, temos o impulso de viver e de reproduzir, um forte instinto nos diz para fazermos isso. E, se quisermos tentar encontrar um motivo para nossa vida, ---vivemos para abraçar nossos irmãos e beijarmos nossas meninas; foi para isso que se fizeram nossos braços, nossas mãos,--- nossa criatividade. Não fomos moldados para sermos profissionais e, sim, para sermos um organismo que cuida de seus semelhantes genéticos e se reproduz.
          Conversamos, portanto, coisas agradáveis, coisas da vida.--- Se vocês me perguntam pela minha paixão, digo que estou encantada--- com a cidade, com os ares de renovação cultural que pairam no meio urbano, ---com o cheiro da nova estação, ---com os poetas que falam sobre assuntos maravilhosos, que falam sobre o amor e com os pensamentos filosóficos que chegam à mente nessa minha fase de adulta. Assim ando descobrindo mais sobre o mundo, ando um tanto quanto melancólica, percebendo e analisando esse mundo que não parece mudar nunca.
          Lendo um pouco dos autores antigos, noto suas angústias e descubro que seus problemas da modernidade -- uma modernidade de centenas de anos -- são reproduzidas aqui e agora com uma espantosa perfeição. E neste momento em que acabo de me considerar uma adulta, ainda que mal formada, uma tristeza interior me invade. Meus ideais adolescentes parecem cada vez mais bobos e tenho um convicção -- fraca, mas ainda sim uma convicção -- que não conseguirei, ainda que tente, mudar esse mundão, mudar as coisas erradas, transformar a sociedade em algo melhor.--- E minha dor é perceber que apesar de ter feito tudo,--- tudo que fiz, tudo que meus colegas e os intelectuais têm feito, tudo que fizemos, ---nós ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.---
          O mundo parece rodar e rodar sem sair do lugar, a sociedade não parece melhorar em termos das pessoas ficarem mais felizes e liberais, menos preconceituosas. Pelo contrário, por vezes tenho a impressão de que as coisas tendem a piorar. E, por mais que pareça inútil, tenho a convicção de que continuarei lutando até o fim da forma como me cabe fazê-lo.
          Observamos nossos pais, nossos avós e vemos que o mundo gira a passos de tartaruga. ---Nossos ídolos são os mesmos de nossos pais, ---ainda que outros cheguem e chamem nossa atenção. Estes, provavelmente, também serão os ídolos de nossos filhos. A cultura, a boa cultura, é pequena e restrita. E o tempo vai passando, a Terra vai rodando e tudo fica na mesma. É claro, você, que me lê, pode dizer que tudo isso é balela,--- que eu estou por fora ou então que estou inventando.--- Mas pode ser que seja você que ame o passado e que não veja que poucas são as novidades e que tudo se repete contínua e ciclicamente. Lembro daquele sujeito, na universidade, esquerdista utópico, que me mostrou os paradigmas de uma nova consciência, algo mais aberto e livre, um mundo novo que estaria surgindo a partir de nossa geração, uma nova juventude.  
            Transformou-se hoje num capitalista, dono de uma livraria, religioso que passa o dia a pensar em como pode lucrar mais, contando seus vil metais. E essa é minha angústia, esta é minha dor. É perceber que apesar de todo o idealismo, de toda nossa utopia juvenil, de toda a força jovem nós não conseguimos alterar a sociedade. Incomoda-me--- perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos, nós ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. ---
            E note que esta composição de Belchior já passou de quarenta anos...
           
Atoamente..
            MariaAntonietaRdeMattos.

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