sábado, 8 de dezembro de 2012

* MEU NOME É RUMPELSTIKISTIN * conto




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* MEU NOME É RUMPELSTIKISTIN *
         Alguém se lembra deste conto? Quando eu era criança, entre dezenas de outros, ouvi este. Era um conto como outro qualquer, tinha coisas boas e coisas ruins, uma mocinha linda que sofria muito, chorava e que, ao final da peleia, ficava com seu príncipe encantado, vivendo feliz para sempre.
Dia destes eu estava com uma criança linda aqui em casa. Uma menina linda de 8 ou 9 anos de idade.Seus pais, amigos de minha mãe vieram fazer-lhe uma visita e trouxeram junto esta criança, dona de enormes olhos azuis. Eu me encantei de imediato com ela, com sua graça, simpatia e mansidão. Uma boneca viva que ganhou meu coração logo de saída. Enquanto seus pais papeavam alegremente na sala mais minha mãe, tomei-a pelas mãos e fui mostrar meus cães e o pequeno jabuti que mora lá em casa conosco.. o Ataúlfo.

         O Ataúlfo já está repartindo o quintal com o Rex e o Xerife há mais de 5 anos. Ganhei ele de uma aluna minha lá da faculdade e agora faz parte do imobilizado.. risos. Mostrei tudo.. falei tudo.. Voltamos pra cozinha pois ela queria tomar um pouco de água.
Copo entre as mãozinhas, vira-se pra mim e pergunta:
-Tia, porque a tartaruguinha tem esse nome tão esquisito?
E eu, que estava louca pra continuar ganhando a atenção dela, num átimo vi o conto do anão de nome exdrúxulo passar pelos meus olhos, virar a próxima curva e voltar pra sua pasta de arquivo... risos
-Nome esquisito?? Que nada Flora ( O nome da bonequinha com movimentos ) - disse eu - Nome esquisito é o do Anão Rumpelstiskittin!! O nome mais estranho do mundo mágico!!

         Gente, aqueles olhos lindos se arregalaram na moldura do rosto inocente, em uma muda constatação de perplexidade, substituido logo logo pela inevitável curiosidade..
-Tia, é uma estória de fadas?.. Me conta.. me conta..
Risos.. Era o que mais eu queria naquele momento. Armei-me de um olhar misterioso, fui à cata de uma xícara de café, enquanto acenava para a Flora sentar-se na cadeirinha do Ricardo. A cadeirinha do Ricardo está conosco também há mais de 15 anos. Eu a comprei para que meu filho se sentasse conosco, nos finais de tarde, na área assobradada da casa da avó (minha mãe), e participasse, ele também, dos importantes assuntos de final de dia que, inevitavelmente, aconteciam alí. Um Chimarrão, (adoro) e as narrativas tão gostosas que as famílias do interior ainda tem, como hábito, fazer. As fofocas da cidadezinha, os acontecimentos em destaque, os problemas de cada um, as doenças, mortes.. nossa... A tarde se extinguia, a noite entrava dominando tudo e o assunto não tinha acabado.
         O fogão à lenha era aceso, os cheiros deliciosos de alho frigindo na gordura se espalhavam por toda a casa e, os assuntos ainda pendentes, postergados para a tarde seguinte. Assim era a rotina daquela área de fundos da casa de minha mãe... que saudades..
Flora se instalou na cadeirinha e um aperto no meu peito veio se fazer sentir. Meu Deus, como a gente é mole...risos. Sentei-me ao lado com um ar misterioso no semblante, como muitas vezes fizera no passado com meu garoto, olhando-a de soslaio à cada passo, para ver os efeitos da pantomima.. risos. sucesso total..!! Flora mexia os pezinhos em atitude irriquieta e, o olhar súplice dava conta de ter toda a sua atenção. Fui até o arquivo, tirei o conto empoeirado e ao mesmo tempo vívido, rememorei algumas partes e, com um suspiro fundo, fui ter com a menina...
- Existia um reino - Comecei - muito, mas muito longe daqui, onde um rei muito velho, vendo que seus dias chegavam ao fim, instou seu filho, o príncipe, para que tomasse uma princesa como esposa e assumisse de vez o trono. Mas aconteceu que aquele reino havia sofrido uma seca muito grande, com o povo sofrendo demais. As lavouras feneceram...ahn... as plantinhas ficaram sem beber água, Flora, e secaram..risos..
         E toda aquela gente teve que pedir socorro ao rei. Claro que ele, bondoso como era, mandou que tirassem muitas moedas do tesouro e ajudassem a todos os que estivessem precisando de auxílio. Quando as chuvas voltaram e o reino respirou, aliviado, pela benção dos céus, a situação das riquezas da coroa era comprometedora. Mas o povo, agradecido, idolatrava o velho Rei e o amaram ainda mais pelo gesto que tivera com seus súditos.
- Súditos tia?
- É Flora, o povo que morava no reino. eles são chamados de súditos.
- Ah.. continue tia.. continue..
- Pois bem, Como o velho Rei estava com seu tesouro empobrecido, não interessou a nenhuma Casa Real dos reinos próximos, colocar princesa nenhuma para casar-se com um príncipe sem dinheiro. Nem mesmo as princesas feiosas deram sinais de vida, apesar de ser do conhecimento de todos, em muitas e muitas léguas, que o príncipe do Reino era muito lindo e bondoso.
         Quando ficou comprovado que princesa nenhuma ia aparecer para desposar o príncipe, o rei se aconselhou com o mago da corte..
- E agora mago? A cada dia que se passa sinto-me mais e mais fraco. O príncipe precisa arrumar um casamento e eu queria abençoar a futura Rainha..Além disto, precisamos desesperadamente de ouro para o Reino.. Caso contrário estaremos à mercê de nossos inimigos.. Não posso nem manter meu exérito mais..
- Majestade, façamos um édito.. ahn... um aviso Flora, disse eu!!.. Nosso Reino tem moças lindas também Que a mais virtuosa, linda e sadia, possa vir a desposar o príncipe.
- Porque não pensei nisto antes?, que idéia brilhante!! Façamos assim mesmo... Que arautos à cavalo percorram o reino, vamos achar a Rainha entre a plebe!! ... ahn, o povo mais simples Flora minha querida..
-Tia, eu quero mais um pouco de água....
Um chamado vindo de lá de baixo avisou-nos que a mãe da Flora estava estranhando o silêncio que reinava na casa... risos.. Arrumei a água para a menina e fui tranquilizar a mãe que voltou , agradecida, aos assuntos que a trouxera até nossa casa.

         Mensageiros à cavalo pararam nas praças dos lugarejos e sopraram suas trombetas. Muito rápido desenrolavam suas notas e, em altos brados, passavam a comunicar o povo das novas do Reino. Nossa, Flora, foi um assanhamento total... As moças todas se juntavam ao redor dos mensageiros, querendo saber de todos os detalhes e de como elas poderiam se tornar rainhas!! Uma loucura se espalhou pela casas simples do reino. As simples e as chiques também.. Nunca se gastou tanto sabonete, perfume e escovou-se cabelos. Todas as moças do Reino queriam se pôr lindas pensando na possível escolha delas pelo príncipe.
Na beira de um riacho, meio longe de uma das vilas do reino, morava uma velha e sua filha. A velha, feia e dugudéia, tinha o péssimo hábito de ser mentirosa. Sua filha, moça linda e muito simples, era costureira e também trabalhava numa roca.
-Roca tia? Que é uma roca?
- Uma máquina antiga, movida com os pés, Flora, e que serve para fazer tecidos. Um novelo de barbante alimenta a máquina que vai "fazendo" um pano... entendeu?
- Entendi!! Já ví uma figura no meu livro de curiosidades da escola!! Achei engraçado porque ela tem uma roda de pau!!...
- Isso mesmo!! rí da graça dela...Dava um trabalhão fazer pano naquele tempo Flora!! mas estávamos onde mesmo?
- A moça linda , filha da velha dugudéia trabalhava numa roca..
- Ah é... Bem, ela também ficou sabendo que o príncipe ia escolher uma delas para se casar e, em companhia da mãe, foi até a aldeia para saber minúcias. Em lá chegando, ficaram sabendo que a pretendente devia ser linda, ter estudo e conseguir tirar do papel. através daqueles rabisquinhos que chamavam de letras, as mais diferentes notícias que alí se achavam, misteriosamente vivas e a espera de quem as entendesse. UAU!!... Ela sabia que era bonita e desde pequena aprendera a ler e escrever, quase que sozinha, na beira do riacho. Sua mãe implicava com ela por ficar perdendo tempo com aquelas bobagens mas agora isto poderia representar TODA a diferença, entre ela e as demais moças do Reino, pois saber ler por alí era uma raridade.

         Um teste estava marcado e aconteceu uma semana depois, em pleno pátio do castelo Real. Dezenas de moças estavam presentes e sonhando serem as escolhidas. Mas todas elas foram sendo desclassificadas.. Umas por serem feias demais, outras por serem deselegantes demais, outras por falarem demais, outras de menos, outras mais por serem totalmente sem modos ou graça feminina... Até que chegou a vez da nossa moça da roca. ela se fazia acompanhar de sua mãe e, assim que chamada, entrou no átrio de um aposento luxuoso onde várias personalidades se encontravam. Sua beleza impressionou à todos que ficaram admirados com ela. Um rolo de pergaminho foi-lhe dado e ela, com desenvoltura, desenrolou o mesmo e leu, dalí, uma linda poesia que a Ada tinha feito para a ocasião. Sem um tropeço, declamou a poesia com voz maviosa, com graça e um charme natural e lindo. Foi um sucesso!! O rei desceu do trono e veio abraçar a moça que, toda tímida, não cabia em sí de felicidade. O rei apresentou-lhe então o príncipe... LINDOOOO... risos!!
- Tia, você está muito feliz né?...
- Ahn... é .. bom, sim claro, por causa dela... toss.. Combinaram que o casamento Real seria marcado para dalí alguns meses. O rei estava feliz e até melhorara repentinamente mas a falta de dinheiro estava brava. Um casamento Real fica caro e eles não tinham dinheiro. Flora do céu... Sabe o que aconteceu então?
- Não tia, conta... conta..
- A velha, mãe dela, que tinha medo de que afilha acabasse perdendo o casamento abriu sua boca e soltou a maior mentira...
- Minha filha pode transformar palha em ouro!!
- O rei imediatamente acabou com a festa. Dispensou à todos e somente com o General, o mago e as duas, além do príncipe, sentenciou...
- Mulher!! Acredito que sua boca ocasionou uma desgraça para tí e para tua filha... Vou deixá-las presas em uma masmorra, incomunicáveis, por três dias. Junto de vocês, pão, água e muita... muita palha.. Ao final dos três dias irei pessoalmente ver o que se passou. Se toda a palha estiver transformada em ouro, sua filha será a nova rainha, caso a palha esteja por lá, intacta, você e sua filha serão imediatamente decapitadas em praça pública. Decapitadas é porque o rei ia mandar cortar o pescoço das duas Flora!! É assim que se chama quando as pessoas são executadas desta forma.!
- Nossa tia, que Rei ruim!!
- Ah minha lindinha, existem coisas piores... Mas voltemos ao conto do anão... ele já vai aparecer!
         Bem, as duas foram trancadas numa torre à pão e água. Em sua volta, até o teto, palha e mais palha lhes faziam companhia. A moça chorava e se lamentava por ter levado sua mãe junto dela. A velha se maldizia pela boca sem controle e as duas se viam totalmente sem saída. Passou-se o primeiro dia e o segundo... As duas cada vez mais desesperadas contavam as horas para a execução. Ao longe ouviam os barulhos vindo da praça onde estava-se armando um palanque para a execução. Então, não sabe de onde e nem como, pois foi uma mágica, claro, sugiu um anão chapeludo e dono de um grande nariz todo torto, com cara de malvado. Em um momento nada havia alí, no outro, ela deu de cara com o baixinho feioso. Ele sorriu para ela com uma boca muito feia, quase sem dentes!!
Gente, vocês precisam ver a carinha de espanto da Flora...!!
- Lalarilalá... Nossa, porque você está chorando moça? - Perguntou o anão..
- Ah meu senhor, estou em desgraça... Vou morrer amanhã... e, chorando, contou tudo pro anão.
- Eu sei de um jeito para resolver tudo!! Disse o anão olhando para ela e se espantando com a feiura da velha.. Posso resolver tudo!!.. Sou muito poderoso!!
- Como?? disseram as duas ao mesmo tempo...
- Posso transformar toda esta palha em ouro fácil fácil... Jactou-se o serzinho como se falasse a coisa mais natural deste mundo..
- Faça isto, anão, disse a moça desesperada, e te transformo no anão mais poderoso deste reino!!
- Isso, isso, secundou a velha dugudéia passando a mão no pescoço...
- Hum, disse o anão desinteressado... Nada disto me interessa... Mas posso fazer um acordo.. Se aceitar, moça, seus problemas estão resolvidos... Caso contrário você vai pro machado... que dózinha dete pescoço tão lindo!!
- O que me propõe Sr. anão? Como posso chamá-lo??
- Simples.. daqui à 5 anos vou voltar à este reino. Até lá você terá um lindo filho, serás a rainha deste reino e viverá feliz com o príncipe. Quero seu filho!! Daqui à 5 anos virei buscá-lo e o levarei embora.. Meu nome é totalmente desconhecido neste mundo.. ninguém sabe pronunciá-lo... serei apenas .. anão, pronto!!
- Tá louco?? Nunca!! Levar meu filho só comigo morta!!.. Sr anão!!
- Muito bem moça... estou indo então... Até nunca mais então, e deu uma risada aguda que arrepiou até os ratos da torre..
- Espere, gritou a velha.
Virou-se para a moça e disse:
- Minha filha, pense bem... Você pode ter mais filhos!! Um a mais ou a menos não vai fazer diferença..!!

         E tanto ela encheu a cabeça da moça que ela aceitou a proposta do anão.
- Bem, hora de me divertir disse o anão. Primeiro um castigo nesta velha mentirosa..fez um passe de mágica e a velha virou uma estátua num canto qualquer da torre. .. Daí o anão trabalhou a noite toda...
De manhã cedo o rei e a comitiva de execução tiveram uma surpresa. Dentro da torra uma estátua e montes até o teto de ouro... Tudo brilhava numa riqueza sem precedentes. Em meio a tudo isto a moça se quedava quieta, com um sorriso satisfeito nos lábios.
O Rei ficou tão, mas tão feliz que morreu alí mesmo. O príncipe, tomou-a nos braços e beijou-a apaixonadamente. Foi uma festa!! Casaram-se imediatamente pois riquezas no reino agora não faltava. Dentro de pouco tempo, o povo, feliz com os novos soberanos, soube que a rainha ia ganhar seu primeiro neném. De fato nasceu um menino lindo... seguindo os traços da mãe, com saúde e dono de tal encanto que os pais fizeram uma festa que durou semanas. Esquecida da promessa feita ao anão lá na torre, embriagada de felicidade a nova rainha..
- Tia, o que é embriagada?
- Ah, Flora, desculpe meu anjo... a tia conta o que é... é quando uma pessoa fica boba, nem consegue pensar direito... assim estava a rainha..
- Ela bebia também tia?
- Não meu anjo... falei em outro sentido... deixa pra lá..(Garotinha esperta..)!!

         Os anos se passaram... Todos felizes. Mas duas coisas aconteceram... nada de um segundo filho e a rainha, ao final do 4º ano de reinado, deu de chorar pelos cantos, com as aias cansando de escutar soluços por trás das portas.
- Aias tia?
- Sim Florinha... as empregadas dela...
À medida que o 5º ano se encaminhava para o fim, o desespero da rainha aumentou e todo mundo passou a ficar preocupado com ela. Nada a alegrava, apenas a presença do pequeno principe menino. A tensão foi crescendo. O rei procupado tanto pediu exigiu e lutou que acabou ouvindo dela a promessa feita ao anão.
Longe de brigar com a rainha, mandou cercar todo o palácio e deu ordens de prisão para o anão se ele aparecesse por alí. No dia combinado, logo cedo, Rei e Rainha, ainda na cama, o anão irrompe quarto adentro cantando desafinadamente..
- Vim buscar o menino!! Cadê ele? Estou com pressa!!

         Só a rainha conseguia vê-lo. O Rei estava imóvel na cama... nada via ou ouvia da conversa..!!
- Nossa tia- me disse a Flora -Este anão era poderoso mesmo heim?
- Muito mesmo Flora. Era um anão mágico muito feio e muito poderoso!!
A Rainha caiu em prantos... Gritou sozinha no palácio... ninguém a ouvia. Estavam parados no tempo, ela, o pequeno príncipe e o anão malvado. O anão lhe disse então..
- Rainha, ainda tens uma chance... Quase impossível mas é uma chance de manter seu filho..
- Em nome de tudo que é sagrado, Sr. Anão... O que posso fazer? Quer um ducado? Escravos? Ouro?... o que???
- Nada disto.. Vou te dar uma última chance... Se acertares meu nome... estás livre de mim!! Tens dois dias... Prepare a sala de audiências... Quero todo o povo lá!!
E PUFF..!!! Sumiu !!

         Imediatamente o Rei acordou... viu só uma fumacinha que se espraiava preguiçosamente no ar... Desconfiou na hora...
- Rainha!!... o peste do anão.... Ele esteve aqui né..?
- Sim marido meu e Rei... e aos prantos contou o último acontecimento em desespero... Como iriam descobrir o nome do anão se ele nunca tinha sido falado na terra?? Era só pra acabar de fazer seu sofrimento ser incalculável... e desabou em soluços de dar dó.
- Moverei céus e terras - Disse o Rei - Acharemos o nome deste anão!!
O reino virou uma tremenda confusão. Nomes eram anotados... dos mais simples aos mais estranhos... Colocados numa lista que foi crescendo sem parar..
Um velho de barbas brancas bate à porta do palácio no raiar do dia fatídico.. O rei em pijamas Reais vai atendê-lo..
- Num conto de magia como este, Sábio monarca, - Diz o ancião_ as coisas simplesmente acontecem por terem que acontecer. Anote aí o nome do anão malvado. Ele me deve muito... vai pagar por isto... RUMPELSTISKITTIN.... Saiba continuar a ter sapiência em seu reinado... Adeus...
E PUF de novo... Mais um sumiço.
O rei, impressionadíssimo, anotou o nome na lista e correu contar pra rainha.. Já a sala de audiência estava lotada de gente que se acotovelavam querendo ver o desfecho de tudo aquilo.

         O Rei santou-se no trono com a Rainha ao seu lado.. Aos pés dos dois um menino lindo brinca com bichinhos e soldadinhos de chumbo. O maioe silêncio se faz.. nem um zumbido de mosca se ouve... risos..
- Floooora querida... vamos embora!!..
É a mãe da menina que sobe as escadas ao nosso encontro.
- Por favor mamãe.. por favor, a tia tá me contando uma estória de anão!!.. Quero ouvir o resto!! Tia, pede pra ela deixar eu ouvir, pede..
Fiquei sem jeito, claro. A mãe dela me olhou em uma pergunta muda e eu balancei a cabeça...- Está acabando Rosa,é  já que ela desce..
- Ok mocinha - e tornou a ir pra sala...
Respiramos as duas, aliviadas.. risos.. Seu rostinho expectante tornou a se voltar para mim...
O anão surge de repente no meio da sala!! Dá uma pirueta e rouba um "OOhhh" geral!! Com um muxoxo se encaminha para o trono. Faz uma mesura exagerada de diz...
- Acabemos com o teatro, ó rainha.. Dê-me a criança pois!!
- Fizestes um trato com ela vilão!! Gritou o Rei
- Flora, vilão é uma pessoa ruim!!
- Ah, isto eu sei tia.. Continue por favor...
Tá certo disse eu. O anão olhou espantado para uma lista de nomes que a Rainha ia dizer. Seguro de seu segredo, acomodou-se com um sorriso mau no rosto e esperou...
- Seu nome é Pafúncio disse a Rainha...
- Nãoooooooo.. disse o anão entre gargalhadas..
- Seria Porfírio?.. respondeu a Rainha...
- Nãoooooooo disse de novo o anão... Só mais uma chance ó rainha!! A Última...
- Então, anão malvado e coisa ruim... Seu nome é RUMPELSTISKITTIN!!

         Nossa!! O anão... ele roxeou!!!... Empretejou e começou a gritar palavras estranhas e sinistras!! De repente caiu de joelhos no chão do enorme salão e mugiu...É, mugiu!! Suas feições se tranformaram e ele se tornou uma cópia do Minotauro de Creta...Começou depois a pegar fogo e queimou... inteirinho ali mesmo, na frente de todo mundo!! Muita gente desmaiou.. uma algazarra!!
Moral da estória, Flora.. O anão sumiu para sempre e o rei, a Rainha, o pequeno príncipe e todo aquele reino... viveram felizes para sempre!!
Tomei-a pelas mãos de novo e descendo as escadas levei a pequena de volta aos pais que logo partiram.
A inocência de uma criança... Meu Deus... Não pude deixar de pensar, com olhos malvados de Rumpelstiskittin o quanto aquele conto era furado!!

         Por exemplo... risos..
1)- Rei que abre o tesouro para acudir o povo??... risos... Nem em contos de fadas!!

2)- Se o Reino estava quebrado, que espécie de idéia brilhante era a de o príncipe se casar um uma moça pobre e inculta ??

3)- Porque será que só uma moça que mora lá no meio do mato, perto de um riacho qualquer, em todo o reino, sabe ler e escrever? Essa não cola!!..

4)- Que contador de estórias é esse que se desmunheca todo pra elogiar a beleza do príncipe??.. Hummm.. Até a criança se espantou com o intusiasmo do La Fontaine paranaense..!!

5)- O Que a Ada está fazendo nesta estória? Este conto tá mal contado!!

6)- Onde estava a velha com a cabeça, que de louca nada tinha, quando foi inventar uma afirmação tão imbecil quanto a que a filha podia transformar palha em ouro.! Se assim fosse elas não andariam quase na miséria.. que idiota!!

7)- Um rei bondoso como aquele ia mandando decapitar uma velha tonta e sua filha inocente que nada tinha a ver com a barbaridade dita por sua mãe!! Que Rei bondoso é esse??..

8)- Agora minhas suspeitas maiores... O anão sabia que ela ia ter um filho é dalí a 5 anos ia buscá-lo... SEI !!.. Transforma a velha em estatua e... trabalha a noite inteira... risos... SEI De manhá a moça está com um olhar de boa aventurança... SEI!! Quero ser uma macaca se realmente não SEI!!.. risos..

9)- Nasceu um menino com os traços da mãe... rindo... Oras oras... E do príncipe.. nada??

10)- A nova rainha não teve mais filhos... engraçado, passa uma noite com o anão e logo depois do casório nasce um menino que é a cara da mãe e depois nunca mais eles tem filhos.. Será que este príncipe lindoooooooo.. não tem alguma coisa de contador de contos?.. rindo...

11)- Outra coisa... Que filha desnaturada é esta que deixa a mãe transformada em estátua como se fora a mulher de LOT e nem dá mais atenção pra ela??

12)- ... Ara!! só pra acabar por aqui vá... que rei é este que tem uma mulher que sabe transformar palha em ouro e JAMAIS pediu repetição do encantamento ao longo de 5 anos?.. Ah se sou eu...!!

Decididamente os contos de fadas e anões tem sua magia e encanto... Sou eu quem, definitivamente, sou uma Rumpelstiskittin...!!

Beijos à todos!!

*** SONHO E JOGO... *** poesia




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***  SONHO E JOGO... ***
I
Sonho que jogo  mas,
estou jogando a sonhar...

Então sonho que jogava...

Jogo o sonho mas
estou sonhando;

e sonhar era o jogo
com que sonhava...

II

E uma louca alegria
me embriagava,

por viver  sonhar-te
despertando...

Saber que era contigo
com que jogava

jogos de amor que urdí;
por ti sonhando...

III

Deus meu,
o que foi esta tola poesia...

Oh sonho feito de imagem
desnuda

e poesia da realidade
do meu dia...

IV

Em ti se mostra
a verdade mais aguda

e jogando sempre 
em sonhada alegoria,

tem por fim a evidência...
Nada muda...!

   MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
   mariahantonieta2003@yahoo.com.br
 
novembro de 2008 


*** SONHO E JOGO ...*** poesia




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***  SONHO E JOGO... ***
I
Sonho que jogo  mas,
estou jogando a sonhar...

Então sonho que jogava...

Jogo o sonho mas
estou sonhando;

e sonhar era o jogo
com que sonhava...

II

E uma louca alegria
me embriagava,

por viver  sonhar-te
despertando...

Saber que era contigo
com que jogava

jogos de amor que urdí;
por ti sonhando...

III

Deus meu,
o que foi esta tola poesia...

Oh sonho feito de imagem
desnuda

e poesia da realidade
do meu dia...

IV

Em ti se mostra
a verdade mais aguda

e jogando sempre 
em sonhada alegoria,

tem por fim a evidência...
Nada muda...!

   MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
   mariahantonieta2003@yahoo.com.br
 
novembro de 2008

*** AMOR... *** poesia




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*** AMOR... ***
I
 
Tão amado é o amor e
tão amante,
 sem noção de relógio
ou calandário...

Primordial,
como o ar é necessário;
como os sentidos
para seguir avante...
II

Nem a água pode
ser mais vivificante;
ou mesmo o sol
marca  meu itinerário...

Somente o amor
pode fixar meu horário,
só ele muda tudo
a qualquer instante...

III

Não me digam de coisas
que não entendo,
tudo o mais
só consegue me deixar inerte e
quanto mais tento,
mais eu desaprendo...

IV

Já nem sei mais
o que é a vida ou a morte.
Só me vejo como teu amor e,
assim sendo
me apoio em ti,
para poder ser mais forte
 
 
   MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
   mariahantonieta2003@yahoo.com.br
 
novembro de 2008

*** INFÂNCIA *** poesia




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*** INFÂNCIA ***
I 
Minha infância que foi doce,
em  sereno sentimento...
 
Desenvolveu-se na languidez
do  verão em estio...

Na queda  das águas de março
e seu forte vento,

dando vida à vela de  minha vida,
navegando no meio do rio...
II

Lavouras verdejantes
em nota de melancolia;

o céu na serena quietude
e envolto em  beleza...

Ah, os beijos de minha mãe,
que doce alegria,
mesclada com o pôr do sol
em uma  vaga tristeza... 

III
Toda manhã azul,
ao despertar-me sentia;

o assovio do vento na roça
imitando uma  melodia,
abafada pelo trinar
de mil pássaros a cantar...
IV
cantar...
Mas já me disseram,
tenho uma alma sombria...

Eu que tinha um pai alegre
e uma mãe que sempre sorria,

no entanto à tal alegria
ninguém se dispôs a ensinar...

novembro de 2008

*** PARA QUEM SABE...*** poesia








*** PARA QUEM SABE...***
I
Quando Satã ia mostrar-se
como ele  é,
antevendo a  desgraça
desta nação...
A fazenda e o gado vendeu
o Dr José,
para armar outro heróico
batalhão...

II

E no momento de maior
escuridão,
no deflagar da mais cruel
contenda...
Entregou ao inimigo um
batalhão,
o cabo João para comprar 
 uma fazenda...

III

O Dr João é hoje um homem
de bem,
que figura entre os mais
tidos  guapos...
José, este  tornou-se objeto de
desdém,
E circula por aí entre rotos
farrapos..

IV

E a plebe,  que tudo inverte
e quer desforra,
grita em uníssono pelas ruas
altiva...
Quando vê o José: Que este
 morra...
Quando vê Dr João: Que este
viva!

   MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
   mariahantonieta2003@yahoo.com.br
novembro de 2008.

*** MEDO *** poesia




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*** MEDO ***

I


O desconhecido,
em meio à noite, dá pavor;
e eu, em meio à noite,
receio o  desconhecido...

Se  caminho pelas ruas
é  com um modo retraído,
sombras não atravesso, 
tenho puro horror...

II

As lajes são como lápides
insinuando terror...

Um poste de luz
sugere ser como  um dedo...

Dedo que aponta para o alto,
 para o enredo,
de cantos e buracos, 
ocultando um agressor...

III

Por isto e nada mais,
procuro sempre pela luz,

por isto é que  o desconhecido
não me seduz,

em momento algum
na lida dos caminhos...

IV
Olho sempre à frente
como cauteloso gnomo;

sopesando  cada hora do passado,
 como

a lua, que lança sua luz pálida
entre espinhos...

MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
   mariahantonieta2003@yahoo.com.br

novembro de 2008

*** ERMITÃO *** poesia




 *** ERMITÃO ***
 
ISoberbo e cheio de altivez;
ufano
de sua postura e longeva
galhardia...
Ao amanhecer o ermitão com
humano
sentimento; saúda a um novo
dia...
II
   Os galos cantam para ele desde
o chão,
com a costumeira orquestra de
 algaravia...
E ele contesta, arrogante e com
um vão
esfregar de água fresca contra a
 testa fria...

III

Quando o sol vem a ocultar-se no
 poente,
parece uma estátua imóvel e
 indiferente
coroada de inúmeras fagulhas  
 vermelhas...
IV

E eis que temos na noite um novo
 festival...
Pois o ermitão entende  de modo
 filosofal
que o  Criador está  esparramando
 centelhas...

 
novembro de 2008

*** DENTRO DO LIVRO...*** conto



  
                        *** DENTRO DO LIVRO...***
      Londres, fins do outono de 1887. Elephant and Castle, um bairro residencial à época. Vamos prestar atenção em uma mansão antiga, ela é nosso enfoque. As folhas caem lentamente no jardim do quintal, de forma a fazer um estranho balé. As árvores grossas, mas com aspecto de pouca vida, cinzas, fazendo achar que estejam sendo atacadas por uma enfermidade nas raízes, mas o verde nas copas ainda continua a fazer sua parte de levar esperança aos olhos dos que tentam encontrar uma justificativa na vida. Inverno, que lentamente chega de forma a fazer com que o cenário mude como o corpo de uma jovem que, dominado pelo tempo, vai mostrando a herança que o paraíso nos legou depois da queda. Um pequeno chafariz no meio do jardim, faz com que as boas lembranças retornem de forma a dar fôlego de vida à entrada da mansão. Os tordos que habitualmente vem se banhar em suas águas desapareceram devido ao frio ventoso, de forma que apenas folhas secas em profusão bóiam tristes.. Aqueles que entram são recebidos por uma escadaria de mármore, que dá para uma grande porta, uma campainha com uma caveira de dragão, faz as honrarias da mansão. Tudo lembra restos do passado, como um álbum de fotografias que não amarela tão facilmente, o ambiente é uma pequena demonstração de que heranças às vezes duram. A construção, edificada no reinado da rainha
Elizabet, ostenta os sinais de muitos outros incontáveis invernos.O interior é muito bem ornamentado, com objetos de época, mas com lampejos desta era moderna, como eletricidade, gás e água encanada. Os moveis de excelente bom gosto, estão numa mistura tal que não conflitam as diferentes épocas que encerram. O candelabro que fica no alto da sala, de cristais franceses faz a coroação do gosto bem caro que aquela família tem, numa constatação clara de que e a casa pertence à pessoas que tem tudo que o dinheiro pode dar.

Uma criança, aparentando dez anos, brinca sozinha em um dos tapetes da casa. Falando, comentando com um amigo imaginário o que estava acontecendo com as suas bonecas e bichinhos de pelúcia. Parece uma princesinha solitária no seu castelo de cristal! A menina tem o cabelo, de um louro dourado, separado por duas tranças que faz com o seu rosto fique mais a mostra. As bochechas bem rosadas contrastam com a sua pele branca. Seus olhos são grandes, e de um verde esmeralda que parece com os olhos de um gato, seu nariz afilado e pequenino, como da personagem de Lewis Caroll, em "Alice no País das Maravilhas", seus lábios são bem formados como de uma pintura de mestre detalhista que, fazendo com que o real seja colocado no imaginário da aquarela, seus dedinhos fazem com que as brincadeiras com as bonecas se tornem um trançado de pernas e braços de louça, desenhando uma forma de
fugir das horas de tédio e desleixo em que os pais a deixam. Bem, vamos acompanhar um diálogo:

– Com quem você está falando, menina? Pergunta uma criada gorda e bem alta, branca como uma torre de mármore, que com as mãos nas cadeiras vem chegando com um grande estardalhaço, a saia apertada fazendo com que ela apresente uma aparência mais engraçada do que ameaçadora. A menina tem um susto, vira-se rapidamente para a empregada, uma governanta, que fica olhando para ela com os olhos inquisidores. 
–Com ninguém, eu estou apenas brincando!.. Faz uma cara magoada para a mulher.
– Vai pra cima para tomar banho, sua mãe já está chegando e daqui a pouco ela vai querer falar com você. Seu pai está viajando e quando voltar vai querer saber se você se comportou direito. A menina fica no lugar, ainda brincando com seus bonecos de louça, pano e de pelúcia, mas a mulher forma uma carranca que a faz levantar-se e ir tomar o banho deixando os seus pertences para trás. Sobe as escadas com uma certa relutância.
No banho, a menina abre o registro e espera que a água vinda das caldeiras saia quente. Fica olhando a água que desce do chuveiro, já bem quente, tentando imaginar as crianças da Índia que, segundo seu pai, quando voltou
de uma de suas viagens, não tem água quente e em algumas ocasiões nem mesmo a água para suas necessidades, ele sempre está viajando por ser um
representante poderoso no comércio de Chá. A menina Lava seu rosto, suas costas, pernas, braços e fica um tempo se tocando em algumas partes que lhe dão prazer. Aprendeu isto com as meninas da escola que, falam com ela de coisas que a sua mãe nunca comentou, e que, seu pai sempre tenta disfarçar. Começa a se enxugar de forma bem lenta, vendo as bonecas que o seu pai trouxe de cada país onde esteve, uma grande coleção que a lembra mais da ausência do pai do que, de sua presença. Mexe em uma, quando abruptamente a governanta entra para vesti-la. A Serviçal escolhe a roupa para ela, e, como uma boneca de porcelana, é ornamentada para a chegada da mãe. Tudo sempre igual, pensa a menina... sempre igual... Há uma semana, um mês.. faz muito que nada muda. Há muito tempo atrás, a mãe chegou com as mãos cheias de compras, pagou a corrida de tílburi, e colocando a sombrinha e chapéu em cima de uma poltrona, procurou pela casa uma viva alma, quando a governanta com a filha adornada como se fosse O Último Imperador da China, foi descendo com ela vagarosamente como num desfile, até que nos últimos degraus a deixou ir sozinha para a mãe.

A senhora ficou olhando a cena como numa peça teatral encenada no oriente, e com um largo sorriso, ficou de braços abertos para receber a filha, que simplesmente se colocou entre os braços da progenitora.
– Como minha filhinha está linda, que fofura. Linda como uma princesinha! - Ficou olhando para a menina como se estivesse vendo mais um objeto de uma loja de luxo. A garota ficou observando a mãe e tendo em seguida mais uma crise de choro. – Que foi minha filha o que você quer, mais uma boneca, mais um brinquedo? – A menina balançou a cabeça, dizendo que não. A mãe insistiu
tanto, de forma a fazer com que a governanta entrasse na conversa, tentando tirar da menina alguma coisa. Mas nada aconteceu.
– Estou com saudade do papai! Falou finalmente.
– Ah! Meu amor ele já vai voltar, fique calma, tudo vai acabar bem. Agora venha ver o que a mamãe comprou nas lojas, tem coisa para a minha querida filhinha. Foi levada pelas mãos da mãe como um cãozinho que era conduzido para ver a nova casa, ou o novo objeto de brincadeira. Foi colocando as roupas, jóias, brinquedos, e demais coisas na frente da criança de forma a fazer com que ela esquecesse o pai, mas nos olhos da criança só se via o vazio de uma
esperança que se desfaz com o tempo. Ela só queria ter alguém com quem conversar. A noite foi chegando, com um manto que se estendia de uma região a outra, com uma longa serpente que vai se espreguiçando, as trevas foram chegando devagar. O jantar foi colocado em uma mesa bem ornamentada e bem suntuosa, a mãe ficava em uma ponta da mesa, e a menina, em outra. As regras de etiqueta eram seguidas à risca de forma a fazer com que a governanta oferecesse os alimento de forma bem pomposa.


Silêncio! Somente o silêncio! As conversas das duas eram em forma de olhares e de pequenas palavras que eram ditas de uma hora para outra. O silêncio imperava, como os choros em um enterro. Terminando a refeições as duas
simplesmente se levantaram e foram para a sala, a menina tentou começar uma conversa, mas, a mãe só mudou de lugar, para que a conversar também mudasse de assunto.
– Conte-me uma história mamãe.
– Mamãe está sem tempo agora, mas tarde eu conto.
– Mas eu quero agora!
– Já disse que não, vai para a biblioteca do papai, deve ter algum livro que te interesse!
– Mas lá não tem livro para mim, de criança!
– Deve ter, a biblioteca é grande deve ter alguma coisa para ler.
– Mas, mãe...
– Já falei, vá para a biblioteca deve ter alguma coisa lá, mamãe tem que dar um telefonema. Vai logo! Decretou a mãe. A governanta, como uma sombra, só observava a situação de longe. A menina ia lentamente para a biblioteca do pai, e como se estivesse entrando em uma sala de castigo, foi fechando a porta paulatinamente. Um mundo, assim que a biblioteca poderia ser resumida, ainda mais para uma menina de dez anos, era de uma grandeza que faria corar de vergonha um bom número de intelectuais, as estantes eram feitas de madeira de lei, como as maiores bibliotecas da Europa feitas com a madeira dos países do Terceiro Mundo, elas chegavam às alturas, como os querubins que tentaram a derrubada de Deus, varias mesas faziam com que houvesse um pequeno labirinto. Tapetes persas decoravam o piso, como uma grande mandala multicolorida.

A menina foi andando lentamente entre as estantes tentando encontrar algo que lhe despertasse a atenção, mas nada encontrou. Dom Quixote de La Mancha, A árvore dos desejos, Contos de Grimm, O mundo perdido, O novíssimo "Um estudo em vermelho", Alice no país das maravilhas, fábulas de La Fontaine... Ela deu um longo suspiro e olhou para o alto pensando que gostaria mesmo era de ter alguém para conversar, como as filhas das criadas por exemplo. Mas os pais por puro preconceito não permitiam que ela tivesse tais amizades. Tac! Tac! Tac! Tac! Um barulho estranho foi ouvido pela menina na biblioteca que vinha dos livros, foi procurando entre as estantes, até que conseguiu descobrir de onde vinha o som, a origem era de um livro grande que ficava na primeira prateleira da estante, lá em cima, ela ficou olhando pensativa observando aquele estranho acontecimento, mas, foi pegar a escada com rodas de madeira, e, colocá-la no lugar exato para pegar o volume. Subiu, foi até o local e pegou o livro que de grande que era, ainda mais para uma criança, pesou e escorregou da mão dela caindo no tape persa colorido. O som foi oco, estranho, mas ela viu que o livro tinha caindo em uma página bem colorida e atraente. Desceu as escadas com a maior rapidez que conseguiu, chegou em cima do livro e ficou olhando nas páginas coloridas a imagem de uma cobra que engolia o próprio rabo, fazendo um imenso circulo em forma de caracol. Entre os espaços que haviam entre o corpo do réptil tinham varias palavras mágicas e estranhas que a menina não conseguia ler, símbolos estranhos que eram divertidos e ao mesmo tempo fantasmagóricos. Levou o tomo para cima da mesa e, puxando o cordão do teto, acendeu o abajur A luz iluminou em cheio a página do livro, uma grande quantidade de luzes se formou como um pequeno arco-íris, que de multicolorido fascinou ainda mais a criança. Sorriu! Mexeu! Mexeu de novo! Fechou o livro para ver qual era o nome. Simulacro. Achou engraçado e tentou ler as palavras da página com a serpente. Passou os dedos lentamente, por cima do circulo feito pelo corpo da serpente, as luzes foi fazendo uns movimentos giratórios, vermelhos azuis, amarelos e outras cores foram se formando no ar como se ela estivesse mexendo em um prisma, que a encantou de tal forma que foi com grande espanto que ela viu que as letras estranhas foram tomando forma, uma perna, o tórax, os braços a cabeça, calças largas e um cinturão com argola prateada, um chapéu de bico como aqueles antigos que via nas xilogravuras do liceu e uma casaca sobre calções e meias compridas... UAUU... um homem antigo e muito bonito lhe estava a sorrir de dentro do livro..
– Boa noite, minha criança! Fez uma reverência bem longa o senhor que tinha se formado nas paginas.
– Quem é você?
– Um amigo!
– Que amigo? De quem? Como chegou aqui? Você é um desenho?
– Muitas perguntas, como o seu pai, você faz muitas perguntas!
– Conhece meu pai?
– Claro, minha criança conheço muito bem seu pai, e não se preocupe ele logo logo vai chegar. Como você ele faz muitas perguntas, bem, quando ele me fazia mais visitas ele me indagava muito, querendo saber de coisas que, com certeza, não tinha muita idéia de onde iam levá-lo.


Mas até que ele teve uma grande idéia de fazer com que o seu trabalho, de simples vendedor de chá, viesse a ser bem lucrativa com os conselhos que eu lhe dei.
– Qual é o seu nome?
– Pode me chamar de Conde... Gosta de mim como estou? Posso ter qualquer aparência que você quiser que eu tenha. No fundo o que eu faço são milagres!

– Está muito bonito assim meu senhor, apesar de antigo.. Mas de que tipo de milagres, me mostra? Pediu a menina com um sorriso de esperança.
– Claro! Com um gesto das mãos as cores da página foram se transformando em pássaros, gatos, cães, ursinhos e outros objetos. A menina delirou extasiada de tantas cores e formas. Ela batia palmas, tentava pegar as figuras, ria muito, se divertia muito. As gargalhadas foram se espalhando por toda a biblioteca, chegando a ser ouvida no lado de fora, pela governanta que com um olhar inquisidor ficava imaginando o que acontecia lá dentro, mas como se
o terreno fosse proibido, ela se resguardou de entrar com a menina lá dentro. As brincadeiras foram se tornando cada vez mais interessantes, a criança que antes tinha os olhos cheios de lágrimas e de saudade, substituiu-os por olhos de alegria e entusiasmo. Foi pedindo cada vez mais coisas que o Conde, com muita satisfação fazia.
– Conte uma história! Foi o pedido que ela fez com olhos de esperanças.
– Claro minha criança, vou te contar sobre a história de um rei do Egito que teve uma das maiores potencias do mundo nas suas mãos quando era uma criança.


Seu nome era Tutancamon e, infelizmente, por não me ouvir, morreu cedo. Vamos a história! O antigo nobre foi contando sobre o inicio de tudo que aconteceu no período do reinado do rei menino. Com riquezas de detalhes, foi criando imagens de palácios, cavalos, homens, guerreiros egípcios e tudo o mais que a imaginação podia criar. A menina ficou estarrecida. Depois de um bom tempo, ela saiu da biblioteca de forma bem alegre, foi direto para o seu quarto onde tirou a roupa e dormiu um sono que há muito não tinha. Sonhou com o Egito antigo. Os dias se transformaram em meses, e com o passar dos tempos o estranho Conde se tornava para ela um bom amigo, sempre presente quando necessitava, foi formando uma amizade que fazia com que a menina freqüentasse a biblioteca mais e mais, a mãe quando perguntava a menina o que ela fazia, simplesmente dizia que tinha encontrado um livro onde tinha todas as histórias que ela queria ouvir. Eles fizeram um pacto de não contar a ninguém sobre amizade que se desenvolveu entre eles. Finalmente um dia o pai chegou, com um longo sorriso nos lábios, com uma pele bem bronzeada, com os cabelos um pouco compridos e totalmente pretos, um nariz bem aquilino e com olhos rasgados, alto e esguio. Foi abraçando todos que encontrava pelo caminho, ficou um bom tempo dando um abraço na filha que soluçava de alegria pela volta do pai. Toda a casa teve uma reviravolta de animo quando o dono da casa chegou, de forma a fazer com que a menina fosse poucas vezes à biblioteca encontrar com o seu amigo. A menina ficou como quem sonha, mas, como em todas às vezes foi sendo colocada de lado depois de transcorridos alguns dias. O pai dividia seu amor entre ela e a mãe, tinha obrigações empresariais, de forma que depois de uns dias, não sendo, mais o alvo das atenções do pai, foi, paulatinamente, indo para a biblioteca desabafar com seu amigo, Conde, que ouvia tudo sem emitir nenhuma reclamação, ou tentativa de inibir a ira da menina.
– O que você deseja ardentemente? Perguntou ardilosamente.
– O que é ardentemente? Perguntou a menina com uma cara de não entender nada  
– Aquilo que você quer mais do que tudo na vida!
– AH! - Foi o que ela disse com uma cara de entendi. – Desejo que o meu pai tenha todo o tempo do mundo para mim, que fique do meu lado contando história sempre que eu quiser! Falou enfaticamente.
– Então minha criança vamos fazer um acordo.
– Qual, de que forma?
– Você me dá o que eu quero e eu te dou o que você quer. Só isto!
– O que você quer?
– Um acordo, e para que este acordo dê certo você vai ter que me dar algo que é seu, ou que venha de ti, então teremos uma sociedade. Eu e seu pai já tivemos um acordo desta forma, e com certeza foi muito proveitoso para ele, como será para você. Então vamos lá, não vai doer nada, tenha certeza!
– O que eu tenho que fazer?
– Chegue mais perto e incline os seus olhos para mais perto de mim, isto deste jeito, assim mesmo boa menina! - A criança foi abaixando a cabeça e colocando perto do pequeno conde que, de lá da página onde existia, soprou em seus olhos com grande força.

Ela levou um susto e imediatamente fechou os olhos que começaram a lacrimejar de forma a molhar o rosto todo.
– Mais perto minha criança, deixe que as lágrimas caiam sobre mim. - Foi o que a garota vez. Com os braços abertos, o Conde foi absorvendo, bebendo as lágrimas que caiam dos olhos da menina.
 – O que é o que é tão clara e salgada tem o brilho das estrelas e o peso das almas, tão clara e transparente e mesmo assim tão incógnita? Lágrimas, lágrimas que me alimentam! O ser dantesco foi tomando mais corpo ficando mais forte e tendo mais poder. Enquanto a menina via com olhos vermelhos de tanto chorar a figura sumindo entre as letras do livro dizendo que iria cumprir a parte do acordo. O tempo foi passando e com a chegada de um novo clipper carregado de chá, o pai da menina foi novamente para uma outra viagem onde teria muito que contar para ela quando voltasse. Ela como sempre foi chorar a partida do pai com seu amigo que sempre falava que o acordo seria realizado, era só ter paciência. Tendo mais calma com a falta do pai que o habitual, brincava com as bonecas, mas não falava mais com elas como antigamente, ia para a escola, mas não tinha as costumeiras queixas de sempre, ela estava mudando. A mãe não notava o que acontecia, só uma pessoa notava a mudança e tinha idéia de onde ela partia. A governanta!
Noite, as luzes estavam apagadas na grande casa, a pouca iluminação que vinha da lua passava com dificuldade pela cortinas, mas era o suficiente para uma pessoa que conhecia os cômodos da casa se locomover sem muita dificuldade e, indo até a porta da biblioteca, abriu-a bem lentamente para que não se fizesse muito barulho, o silêncio não foi quebrado!

A governanta entrou na grande sala tomada de livros, e foi diretamente onde se encontrava o volume que a menina tinha derrubado por acidente, se é que existem acidentes,. Tomou-o e levou para o mesmo lugar que a criança, mas diferente dela, a governanta teve uma grande desenvoltura em achar a página certa e tocar os dedos pelo circulo e lentamente entoar o canto que a menina fez por acaso, o som foi se misturando com as trevas do aposento, a
escuridão foi sendo sugada pelo livro como um pequeno buraco negro que ao invés de atrair a luz, fazia o contrario. Lentamente uma mulher trajando roupas caras, de olhar portentoso e apresentando, diferentemente da original feições sarcásticas, e corpo escultural, tomou forma. Sua patroa. Depois, instantâneamente desapareceu e um homem forte, aspecto pouco amigável, trajando vestes de marinheiro, foi se levantando do monte de letras, tomando
a forma que tanto era conhecida pela governanta e que jazia agora no fundo mar em algum lugar entre a Inglaterra e a américa. Uma tempestade tinha destruído os mastros do veleiro onde Amus trabalhava e ele que rizava as vergas do traquete, foi engolido pelo mar junto com o mastro... nunca mais voltou para ela, graças à Deus.. Detestava aquele homem, odiava-o... Com um sorriso irônico, como o gato de Alice no País das Maravilhas, O homem fez uma saudação.
– Como vai minha querida Ágatha. Com uma voz zombeteira, o marujo foi soltando uma gargalhada rouca, que não conseguiu conter quando viu a cara de tristeza da criada.
– Achei que não nos veríamos mais. Disse a mulher com voz fraca.
– Mas, todos voltam, pelo menos aqueles que insistem em dizer que nunca mais voltarão, como foi o seu caso.
– Achei que o nosso trato fosse durar para sempre, mas o que você fez foi me enganar como tem enganado a menina, sei muito bem que ela tem vindo aqui falar com você, posso sentir seu cheiro de longe, armando as coisas como um conspirador tentando chegar ao poder.
– Ah minha cara...uma coisa que aprendi é que é melhor reinar no inferno do que servir no céu. Você teve uma experiência semelhante, não?
– Você disse que eu a teria sempre que quisesse mais o que aconteceu foi que ela encontrou uma outra pessoa. Mas, o contrato foi para que fosse eu a ter este direito.
– Você tem que aprender que direitos neste mundo são privilégios, e privilégios são conquistados. Conquiste-os!
– Como, seu demônio desgraçado! Você não cumpriu a parte do plano, do trato, agora tenho que me contentar em vê-la nua algumas vezes no dia, o que é uma tortura para mim, tenho que tê-la e não vê-la!
– Vamos por parte, como diria meu amigo Jack, o Estripador. Seu acordo foi de tê-la por algum tempo, enquanto o marido dela não voltasse, o que eu fiz,
mas em tê-la para o todo sempre são coisas que teremos que fazer um novo acordo, pois tudo na vida pode ser arranjado. Discorreu com um riso maroto.
– De novo com o seu golpe! Não vou fazer aquilo de novo! De jeito nenhum, cria do inferno! Eu mudei!
– Como todos, só que sempre voltam para mim, conheço muitos crédulos que como você, mudaram de lado por algum tempo, mas não deixaram de montar os cavalos dos adversários. Mudar! Sabe o que significa conversão?? uma mudança de mente, e com certeza você não teve nenhuma mudança na sua mente, como podemos ver pelos seus olhos.

Tive imperadores que se debruçaram para ouvir meus conselhos, monarcas, cortesãs, covardes, corajosos, padres, pregadores tudo e todos. Em meio a uma humanidade corrupta como esta, onde se apregoa à todo momento o combate à prostituição, roubo, hipocrisia, morte e a fome, creia, se uma mercadoria está à venda, é porque, tem mercado consumidor. Os ladrões só ficam tristes quando são eles os alvos do roubo, a prostituta é inferiorizada pelos mesmos homens que vão atrás de seus serviços, hipócritas o são por ser mais fácil à obrevivência. Quantos morrem de fome enquanto as suas mesas sobejam alimento?, fome é um dos problemas mais fáceis de serem resolvidos, mas, quem seria o tolo em eliminar um dos maiores controladores de população que existe? Como disse um conhecido meu o homem é o lobo do homem! Venha minha governanta, tenho para você um novo contrato onde terá o que deseja. Sua patroa, em uma cama coberta de seda. Lembra a sua surpresa quando a teve entre os seus braços, aquela carne perfumada branca e bem macia? Pode ser sua novamente, basta somente que faça o que tem que ser feito. Vamos, foi bom para você e será novamente. Ela gostou, acredite, ela gostou mas, com uma dama da sociedade, tinhas que tomar mais cuidado. E ela o fez muito bem, pois o marido já estava ficando desconfiado,  ele sempre teve uma ponta de inveja das mulheres que sabiam tocar no corpo de sua mulher, melhor que ele. Como sei de tudo isto??, tenho milênios!. Vamos, dê-me o que quero e te darei o que queres. Agora! Bradou o conde que era o detestado Amus. A governanta ficou olhando com cuidado os olhos do marinheiro, enquanto ele fitava a mulher com olhos de um prestidigitador.

Aos poucos, rendendo-se à uma vontade infinitamente maior, foi vagarosamente desabotoando a blusa, mostrando o corpete. Amus ficava esfregando as mãos com os olhos ávidos como os de um abutre. Um contraste, isto que era os seios da governanta. Em contraste com o corpo já com algum peso a mais, os seios eram fartos, bonitos, bem formados, com os mamilos rosados, feitos para o prazer. Amus/marujo ficou fazendo sinais para que ela aproximasse mais os mamilos, queria que fosse o mais próximo possível, a governanta acabou de tirar a blusa e o corpete, mostrando os seios.
– Mais, próximo, mais próximo, você sabe que eu não posso sair destas malditas páginas, incline ele para mim, não é a primeira vez que você faz isto. Assim, isto mesmo, assim, boa menina, assim mesmo que eu gosto, mais perto! Ela deixou os seios bem próximos da boca da figura de sua patroa, que em tom de lascívia, a atraía ainda mais. A coisa do livro pegou o bico do seio da governanta e cravou os dentes bem no mamilo. Ela deu um pequeno
grito de dor, mas mordeu os lábios para que não acordasse ninguém. A figura da patroa... a coisa do livro, ficou ali como uma pequena princesa. acariciando e sorvendo o liquido precioso e vital. Ali na biblioteca escura, muito tempo depois,como uma pintura de Caravaggio, iluminada somente pela luz tênue a governanta massageia o seio dolorido, com os lábios vermelhos da mordida que deu em si mesma, enquanto uma gargalhada varria toda a biblioteca, como uma grande pororoca, encontrando as águas do mar do prazer com os rios da vontade.
– Diga-me, por que os esperançosos são os mais  saborosos? A mulher ficou em silêncio. A casa estava em silêncio. Nada se movia no corredor, escadaria, sala de
jantar, nos quartos e no chafariz. Tudo mostrava como o tempo passou vagarosamente entre os galhos das árvores torcidas que circundavam o jardim. O que se sentia na casa era que a calmaria antes da tempestade já se anunciava, o sussurrar das asas de um querubim caído, já batia entre os cômodos daquela casa. Um coche passou pelo portão, totalmente preto, foi avançando lentamente pelo jardim até que circundou o chafariz e ficou perto da porta. Desceram do veículo, a esposa, a governanta e a menina, todas de preto, com olhares distantes e em uma posição corporal cabisbaixa. Foram, para casa sem olhar
para trás, entraram e deixaram o cocheiro de pé e respeitosamente de boné nas mãos. A mulher deixou o xale, a sombrinha e o véu sobre a mesa. A menina ficou
sentada na poltrona com um olhar distante e a governanta somente olhando o que acontecia. A mãe sentou-se ao lado da filha, acariciou lentamente a cabeça da garota que continuou fitando o nada.
– Minha filha, calma que tudo vai dar certo. O papai foi para um lugar muito bom, ele foi para o céu, para ficar junto com Deus. Nada vai faltar para você, pode ter certeza. A mamãe vai cuidar muito bem de tudo e, temos que pensar que agora, ele está melhor do que antes. Ele está com Papai do Céu! A garota estava como em estado de choque, não dizia nada e nem mesmo se preocupava em olhar para os olhos da mãe. O que fazia, era olhar para o nada como se estivesse vendo alguma coisa oculta para os outros olhos. Algumas lágrimas caíram dos olhos da menina. O jantar foi funesto, se descrito em palavras simples, por que na verdade foi horrível. A garota nada comia, e mesmo assim tinha que continuar na mesa, a mãe só fazia uma única coisa, tentar provar que tudo estava bem e que poderia dar jeito em tudo.


Conversava com ela como se tudo tivesse sido um simples capricho da natureza do destino. A menina, mais honesta, sabia o que veria pela frente. Era mais fácil se contentar com a verdade, pois ela não pode ser desmentida. Ia sempre para a biblioteca, conversar com seu amigo. Os dias foram passando e evoluíram para semanas e meses, a casa retomou vagarosamente à rotina habitual, e a menina tornou a sorrir. A governanta notou que o semblante da
mulher vinha de novo melhorando. Até ela, governanta, tinha um ar mais feliz Estava freqüentemente indo consolar a patroa em seus aposentos com um sorriso nos lábios que nunca viu antes. Estava cuidando do corpo, da aparência, das coisas que antes deixava de lado. A pele tinha mudado como que por encanto em uma pele mais viçosa, e mais bronzeada. Tinha tomado uma nova imagem. Acompanhava a patroa para fazer compras, o que não fazia antes, dava palpites de cores, de produtos de objetos. A menina brincava com muita alegria pela casa, tinha feito novos amigos na escola, algumas meninas
vinham lhe fazer uma visita para trabalho em grupo. Ela gostava, se sentia amada. Depois da janta ela sempre ia para a biblioteca, para ficar algumas horas por lá, a mãe uma noite lhe perguntou o por que de tanto zelo na leitura e que livro ela estava lendo naquele momento. A menina respondeu que nenhum o que ela fazia era ficar lá ouvindo histórias de muitas viagens.
– E quem conta estas histórias minha filha? Indagou a mãe.
– Papai me conta!
– Quem?
– Já falei, papai!
– Minha filha, seu papai morreu já faz alguns meses.
– Eu sei mãe, mas ele vem me contar histórias todos os dias, agora ele tem tempo o bastante para me contar histórias. Bastante tempo! Disse a menina indo correndo para a biblioteca para a costumeira hora da história. A mãe nada falou somente ficou observando a menina. Achou que fossem tolices de uma criança e que com o tempo passaria. A governanta somente olhava o que acontecia, como uma sombra, que a luz mais forte não conseguia espantar. Um som de campainha soou por toda casa. A governanta rapidamente foi atender e deu com um homem alto, portando cartola e bengala ricamente adornada, capa de chuva e roupas pretas. Cabelo grisalho e com um cavanhaque igualmente grisalho. O vetusto senhor estendeu a mão sem falar nada. A mulher entendeu
o recado e entregou o embrulho que se encontrava em cima da mesa, um pacote de papel pardo, aparentando ser um livro. Colocou na mão do homem que simplesmente agradeceu deu meia volta e se foi.
– O que você vai fazer com este livro? Perguntou a mulher na porta.
– O que todos tem feito no decorrer dos séculos, vou passar o conhecimento para outros. Foi o que o homem respondeu sem nem mesmo olhar para trás. A
governanta teve a impressão de ter ouvido uma risada, mas não sabia se vinha do homem ou do livro.
- Você também sabia do livro!!- Exclamou..

                                           2002
                           

                                                                                                           2002