*** AMOR ETERNO... ***
I
Ruge o mar,
que se encrespa, se agiganta;
a lua, toda
pura prepara seu vôo ao léu...
E no
momento mesmo em que se levanta
dá um beijo
no mar seguindo rumo ao céu...
II
E aquele
monstro indomável que respira
tempestades,
sobe, desce, volteia e cresce...
Ao sentir
o doce ósculo, apenas suspira,
e em seu
cárcere de rochas se estremece...
III
E durante
séculos e séculos perplexos,
eles sonham
de amor nas noites estivais...
Ela dá à ele
seus mais límpidos reflexos;
Ele lhe
oferece suas pérolas e seus corais...
IV
Com orgulho
expressam seus amores,
estes
velhos amantes assim afligidos...
Ela dizendo
-Eu te amo- em seus fulgores,
e ele atestando
que a adora em seus rugidos...
V
Ela o
adormece com sua luz mais pura,
e ele
a arrulha com seu eterno grito...
Aproveita
e conta de seu afã e amargura;
com sua
voz que estronda em meio ao infinito...
VI
Ela, pálida
e triste, o olha enquanto sobe...
pelo escuro
espaço onde a luz lhe é rente...
E orando
ela pede, sem ter jeito esnobe,
que Deus
oculte o duelo ainda à sua frente...
VII
Pois compreende
que seu amor é todo impossível,
e o mar
sabe também em convulso abandono...
E se contemplam
em bola de cristal terrível,
desde o enorme
azul de onde ele tem o trono...
VIII
Então, ao
descer atrás de uma serra marinha,
ela grita ao mar:
- Em teu fulgor me abraço!...
- Não desças
assim a tal ponto, estrela minha...
estrela de
meu amor...Detenha teus passos...
IX
Um instante
contigo mitiga minha amargura,
já que com
tua luz sideral e divina me banhas...
- Não vás embora ..
Não vês tua imagem pura,
brilhar
divinamente em minhas entranhas?..
X
Ao que ela
então responde em louco temor:
- Eis que
meu vôo e morte aqui circunda...
Deter-me
já não posso meu grande amor;
compadeça-te
pois desta infeliz moribunda...
XI
Meu último
beijo, prenhe de paixão te envio,
meu coração
apaixonado a eternidade vai beijar...
E ...detrás
da serra, em meio ao escuro vazio,
desaparece
em definitivo para não voltar...
XII
E então
o mar, de uma ponta à outra ponta,
acalma suas
ondas ao ver ser tola a braveza...
Imenso e
desvalido, entende que não conta
lutar sozinho...
É apenas aumentar sua tristeza...
XIII
E tudo se cala...
O mar não mais importuna
com seus
bramidos cheios de forte escarceu...
Mas sonha,
miserável, com a visão noturna,
da próxima
noite ter, de novo, sua amada lua no céu...