terça-feira, 18 de dezembro de 2012

*** UM GRITO... *** poesia







 
*** UM GRITO... ***
 
Meu sorriso há muito desapareceu..
A ironia mora aqui... comigo..
 
I
 
Sou rameira que inspira desencanto;
perdida sem futuro e sem amores...
 
Sobre a tumba dos meus sonhos ora canto
ao colocar alí um buquê de flores...
 
 
II
 
Odeia o mundo meu canto sofrido;
o estigma social marcou-me a frente...
 
Feito fonte de dor, cada gemido
mostra a cruz, em meu peito sofrido
 
e incita ao sarcasmo, toda gente...
 
 
III
 
Sem luz na alma e com ilusão tristonha,
O pesar não mais irrita nem abate...
 
A fronte envelhecida já não sonha
e nem o lesado coração mais combate...
 
 
IV
Repugna a todos meu fatal delírio,  
repele à todos o meu sofrer eterno...
 
Eis que em minha auréola de martírio;
brilha sinistra, parte deste edílio,  
A tenebrosa chama do inferno
 
V
 
Devorada por negros pesadelos;
lanço por vezes sonoras gargalhadas...
 
Po ser de infame puta um modelo,
Joguei fora minhas crenças adoradas...
 
VI
 
Sem fé em minha fé vertí meu pranto;
 
 
e com ela perdida de vez, busquei a orgia...
 
Mas o vício só fez crescer meu desencanto;
a solidão de meu catre viu meu pranto,
 
e agora o vício e a virtude... Tudo me enfastia...
 
VII  
 
Agora para o meu coração feito de lodo;
nada neste mundo pode comovê-lo...
 
E então pesarosa e indiferente a tudo;
Não mais sou feliz, nem posso sê-lo...
 
VIII  
 
Minha vida tornou-se decepção terrível;
o mundo desapiedado, mais acha é graça...
 
E agora entendo o porque de ser possível;
Meu coração que foi outrora tão sensível,
 
Não mais sofrer ao encontrar a desgraça...
 
IX  
 
E se me dói sentir a dor de alguem; então,
meu riso abafa este penar tolo e profundo...
 
Se me resta ainda no coração algo de bom;
me dá vergonha mostrar isto para o mundo...
 
X 
 
Quando a pena veio e torturou a minha vida;
a desgraça levou-me célere para o abismo...
 
Soberba fui ao disfarçar minha ferida;
encobri a alma por não ver mais uma saída,
 
Com torpe descaso, tão comum no cinismo...
 
XI 
 
No começo da juventude somos sensíveis;
amo a tudo; acreditava eu, tão inocente...
 
Então na vida, pratiquei coisas horríveis;
E de maldade, povoou-se minha mente...
 
 XII 
 
Eu combatí cheia de ânimo e esforçada,
contra a sanha de minha sorte tão ruim...
 
Mas em meio à luta; sozinha e fatigada;
no turbilhão ruim que era a minha estrada,
 
sentí aos poucos minguar as forças em mim...
 
XIII
 
E eu busquei assim; sedenta de perigos,
as amizades, os amores, as emoções...
 
Turbas infindas de mulheres e amigos
apareceram a infileirar decepções!..
 
XIV 
 
Olhando para os sentimentos naufragados;
burlei eu mesma, o mais amoroso empenho...
 
Eu já não via mais castelos encantados,
nesta base efêmera e feita no desdenho...
 
XV 
 
De minha pobre ilusão assassinada,
os restos profanaram toda melancolia...
 
E o cadáver de minha fé massacrada;
Apodrecendo na moral ,tão execrada,
 
Velei rindo, com as luzes fracas da orgia...
 
XVI 
 
Em culto pagão a este mundo salafrário,
de minha minha juventude tão inquieta...
 
Vestida de colombina, fui ao calvário
e lá vivi, com meu canto, a triste meta...
 
XVII 
 
Em irritantes gozos inescrupulosos
escarnecí com meu penar tão indigente...
 
fiz cabriolas, transei com pobres e poderosos;
com desconhecidos, feios, lindos ou charmosos,
 
e apesar da ira, diverti à muita gente...
 
XVIII 
 
Mas penitente já; sofro então chorando,
consumida estando por uma letal tristeza...
 
Pela via mais dolorosa vou carregando
a grande e ridícula cruz de minha pobreza...
 
XIX
 
Como troféu de quem o mundo não perdoa;
heroína pândega de carnaval e mártir escrota...
 
Na solidão abandonada e sempre à toa;
um barrete de louca é hoje minha coroa...
 
E por túnica eu visto uma velha capa rota.
 
XX 
 
Nutrida com as mais negras decepções,
envergonhada do que eu fiz, neste jogo..
 
Renego a todas estas tolas ilusões
que acariciaram a minha juventude de fogo...
 
XXI 
 
A ilusão brilhante que alagava
minha idade juvenil, eu que a maldiga...
 
A boemia, esta que então imperava;
só me deu falsas glórias e me mostrava,
sonhos de rainha em leito de mendiga...
 
XXII 
 
Sonhei com a fama e meu delírio foi tanto,
foi tal a audácia desta mente quase louca;
 
que a glória de Deus, pai único e santo,
à minha ousada ambição, pareceu pouca...
 
XXIII 
 
Mas eis que Deus abate a soberba rara
er severa; encontro a expiação agora...
 
Ao ver prostrada a salvação que eu matara,
na falsa glória que na noite eu alcançara,
 
Satanás, no fim, venceu ao vir a aurora...
 
XIV
 
Meu sonho foi uma piada ilusória,
não existe este laurel tolo e louco...
 
Para dar-me esta impossível glória
na orbe não é nada, o infinito é muito pouco...
 
XXV 
 
Já não me importa mais a dor presente;
também não me importa a dor passada...
 
Sou um espírito ruim e renitente;
o porvir, hahaha...espero indiferente...
 
Tanto faz, feliz ou sempre desgraçada...
 
XXVI 
 
Só meu fastio certo, agora importa..
Cansada estou da duração desta guerra...
 
Num grito ao Pai, só um pedido me exorta;
Deus!, que em meu ataúde de morta,
 
Eu possa dormir em paz, debaixo da terra.
 
 
MariaAntonietaRdeMattos.
dezembro de 2003



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*** UM CONSOLO... *** poesia

 
 
*** UM CONSOLO... ***
I

Não te atribuo culpa se em
tuas dores;

meu amor se despetalou como
uma rosa...

Sabe, virá a primavera e haverá
novas flores;

e este ramo seco vai ser a
maior prova...
II

Em lindas pérolas se tornará
o choro vertido,

de um colar novo que quebrará
toda tristeza...

Um sol  muito precioso, 
para este ramo florido;

Trará seiva fresca e consigo,
mais beleza...

III

Tu seguirás tua vida; e eu..
seguirei a minha

liberto num jardim, terás que 
achar o amor...
Perderás sim, o pólen desta
pequena rosa;

Mas acharás muito mais em outra
linda flor...
 
IV

As palavras às vezes morrem e 
restam perdidas;

 e os beijos também fenecem,
como esta rosa...
Mas para cada morte,
existem novas vidas;

Buscando novos lábios
em ânsia poderosa...
 
V

Apesar de toda esta primavera,
que é tão querida;

O que está acontecendo
que jamais te recuperas?

Não te quero ver como a um cadáver,
sem vida;

Quero antes é ter,
decidida de minha partida;

A certeza que és feliz,
sem delongas e esperas...

MariaAntonietaRdeMattos.
novembro de 2007

*** MISÉRIA... *** poesia


*** MISÉRIA... ***
I

Em seu curso incerto e tão volúvel,
 a fortuna,

tudo o que me deu,
 um dia veio e me tirou....

E então a miséria pálida,
terrível e soturna,
 
chegou ao umbral da minha porta
 e se sentou...

II

E chegou a amizade,
 que sempre estava

nos festins que  minha casa,
 presidiu...

E ao ver a necessidade
que eu passava,
 
horrorizou-se,
 fazendo que também chorava;

e ante meu espectro cansado
ela... fugiu..

III

Meu amor chegou também,
 selei os lábios,

temí que alí se consumasse
todo o terror...

Mas sem vacilar;
com pensamentos sábios,

acercou-se ele, presuroso...
 e me abraçou!!

IV

E  a miséria pálida,
 terrível e soturna,

que no umbral de minha porta
 se sentou...
 
Ante àquele anjo,
 com o qual não se coaduna;

 abalada ante o que
presenciou...

Trazendo de volta minha
antiga fortuna;

Ela, horrível harpia, 
nunca mais voltou...

MariaAntonietaRdeMattos.
dezembro de 2007

*** DE NOVO... *** poesia



                                   




              *** DE NOVO... ***

I
Um adeus aos prazeres me
acometeu,
quando o sofrer surgiu na minha
frente...
Me sonhei então um homem,
indiferente
ao estúpido amor de outras... 
como eu..

II
Em meu sofrer, não via aberta
uma porta,
estava o mundo para mim
deserto...
Não haveria nenhuma sombra
por perto;
e no lugar do coração eu tinha,
certo;
uma insensível lápide de quem
está morta.

III
Despertastes em mim, então,
as ilusões
com uma imbusteira frase
qualquer...
E deixaram a tumba, minhas
paixões,
e te entreguei meu coração
de mulher...

IV
Não estranho que quisesses
provocar-me,
nem estranho que lograsses
acender-me
Porque tu fostes capaz de
sopesar-me...
Mas não és capaz de
compreender-me...

V
Não esperes que tua piedade eu
implore
volvendo com meu amor a
importunar-te...
Pois mesmo que rendido, o coração
te adore,
meu amor próprio, ordena agora a
abandonar-te

VI
Eu seguirei na vida, com minha 
 melancolia,
enquanto tu gozas de
tranquila calma...
Tu me deixas a dúvida, a cruel
solidão vazia,
e eu, em troca te deixo
minha alma...

VII
Eterna será minha paixão
profunda..
Em ti pensa esta mulher, que coisa
engraçada..
Pensa na vida que se esvai,
a moribunda..
Pensa na glória aquela, como eu..
uma condenada...

MariaAntonietaRdeMattos.
dezembro de 1997



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*** SOMBRA... *** poesia







*** SOMBRA... ***
I
Quem sois.. diz, sombra errante,
que sempre me segues
pertinaz..
Diz-me o que é que você
faz
e porque estás sempre
adiante?
II
És por acaso, a tal memória
estuante,
vinda de outros longínquos
Vahallas?
Quiçá ao engendrar-te heróico desejo,
com meu próprio ser então
 batalhas?
Porque sem saber nada do
que falas,
em toda parte que olho, sempre te vejo?III
Serias talvez, o éter desprendido,
de primeva  região
impalpável?
Algo que por um ato
inexplicável,
em fantasma acabou
convertido?
IV
Ou quiçá de meu choro 
 vertido,
o vaporoso e etéreo 
ardimento
finge tomar uma forma
no vento?..
Forma que amo e me
acovarda?...
Serás enfim meu anjo da guarda;
possivelmente o 
arrependimento?V
Quando nas noites, os seu mares,
de sombra e magia, na 
 terra verte,
em meu leito sozinha
caio inerte;
pensativa e nutrida de
mil pesares.
VI
Adentrando então, em todos os
 lares,
em inusitadas horas 
tu apareces...
E sem demoras tomas forma e 
cresces,
me acordas e pulo como
uma louca;
para ver tua sombra ficar
tão pouca,
que então te extingues...
desvaneces.VII
Povoas minha extraviada 
fantasia,
com indistintas formas
primevas...
Tu és a luz bruxoleante
nas trevas;
e és  também a sombra, na
luz do dia.
VIII
Inspiras até mesmo uma
doentia
paixão que a mim causa
espanto...
E, retroajo até o campo s
anto
onde a recordação é para mim um
 mal...
Uma triste e sofrida história
criminal
que santificou pra sempre
meu pranto!..
XI
Te adoro sombra sublime e 
impossível,
imagino-te lá do meu leito... e
você veio!
Mesmo a mim que em nada 
 jamais creio,
hoje espanta, o etéreo espectro 
incrível...
X
Este mesmo que projeta a
alma adorada;
porque não tens, ai!..uma forma 
 tangível?
Oh, tu que mostras a esta
infortunada,
aquele que nos sonhos sempre
tomba?
Porque não me transformo e
m sombra,
Para fundir-me para sempre
em teu nada?XI
Esta sombra silente, reflexo de
meu amado,
existe aqui comigo, a lumiar
languidamente,
tal como brilha pálida, uma
luz iridiscente,
provinda deste imenso céu, todo abobadado.
XII
Porque em meu olhar de audaz
fantasia,
vives trazendo memórias 
 do passado?..
Quem poderia em sã consciência
crer
que entre as brumas do sono
que tenho,
amaria com loucura; com tanto
empenho
a um ser imaginário que não
pode haver?XIII
Te vejo algumas vezes, em uma
flor amarela.
Em outras, estás numa estátua marmórea.
Em outras mais, pareces uma visão
incorpórea,
refletida na lua, vista das grades 
 da janela.
XIV
Até como a tênue luz, emitida por uma vela,
finalizando outras como estes
possantes
raios de sol, fonte de calor que 
 anelantes,
entram afoitamente adentro, p
elo balcão...
Então se desfazem lindos; refletidos
no chão,
num universo, cheio de átomos
brilhantes..
XV
Te adora quase que
intuitivamente,
de ti cuida quando estou dormindo.
Anseia por tua volta, serás
bem vindo,
para meu espírito que é tão 
 carente.
XVI
Traga a mim tua forma
transparente,
e oxalá eu jamais, em eões 
lamente,
que tua presença, por mim
exaltada,
termine de novo em verter
evaporada.

Meu amor, o que quero ao fenecer 
 é dar a ti o nada.. nada de meu ser,
ou ser contigo talvez o nada... nada!


MariaAntonietaRdeMattos.
dezembro de 2004