sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

*** MÔNICA CONFUSA...*** prosa




        





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             *** MÔNICA CONFUSA...***
         Mônica escutou uma algazarra que a fez ir até a janela, por mais que não sentisse o próprio corpo dentro dos eixos... Um gosto terrível no céu da boca – mas ao mesmo tempo uma sensação de leveza quase a fez pular.De repente ouviu um baque e era como se a tivessem arrolhado dentro de uma garrafa, sem lançar a garrafa ao mar, para sempre perdida entre pedras e baratinhas brancas. Tudo isso encostada na janela. A algazarra vinha da calçada em frente ao seu prédio. Parecia que alguém havia se jogado. A multidão fazia um som disforme, que aumentava e diminuía, mas percebia-se claramente que muitas pessoas riam, outras cochichavam por entre ombros e algumas, mais medrosas, faziam o sinal da cruz olhando para o céu.De modo que ela olhou também para o céu e o céu era só aquilo mesmo: uma total incompreensão em azul violáceo com rajadas de fumaça branca sob a forma de animais selvagens compreensíveis apenas na cabeça de um louco.

         Ficou atormentada ao saber que, bem na frente da sua janela, alguém havia se jogado pela janela. Possivelmente acima da sua janela. É que ela havia acordado também pensando em se suicidar, como em toda quarta-feira, e ter visto aquilo a forçou a tomar uma decisão radical. Os pensamentos mais importantes da vida de uma mulher acontecem em menos de um minuto. Quando se reflete demais, pondera-se, e no fim não se faz nada. Começou então a procurar a melhor maneira de acabar com tudo, de uma vez por todas. As primeiras idéias que lhe passaram pela cabeça foram as primeiras idéias que passam pela cabeça de qualquer pessoa que deseje se matar. Um tiro na cabeça!... Porém, não poderia arranjar uma arma porque não conhecia quem tivesse uma e os bandidos que conhecia haviam sido presos ou mortos ou simplesmente esquecidos por si mesmos. Enforcada. Muito pouco prático e correria o sério risco de apenas perder a voz ou se engasgar. Pular da janela lhe pareceu prático, mas um engraçadinho lá em baixo já havia pensado nisso antes. Assistia na TV ao depoimento de um ministro acusado por corrupção quando pensou: veneno de rato..! Foi até a portaria perguntar ao zelador se podia lhe emprestar um punhado de veneno de rato. Havia na verdade dois zeladores dentro dos seus macacões cor-de-merda e, quando lhes falou, eles apenas se encolheram um sobre o ombro do outro e cochicharam baixinho,  ignorando-a  completamente. Muito perturbada, saiu porta afora. A multidão asfixiante. Todos gritavam e queriam ver o morto. Havia uma ambulância estacionada e uma patrulha policial.

         Como a multidão não dava folga, impedindo os enfermeiros de recolherem o cadáver, os policiais começaram a distribuir cacetadas no povo, indiscriminadamente. Uma velha caiu no chão atrás da dentadura. Um garoto de suspensórios e corte de cabelo militar foi lançado de queixo sobre o meio-fio. Então um clarão se abriu e foi quando ela enfim pôde ver uma massa de carne contorcida, as pernas dobradas sobre o tronco que primeiro havia se chocado com o chão. Era uma pasta vermelho-escuro com ossos para fora. Mas pelo crânio dava para ver que era uma mulhe... e nova! Mais ou menos da sua estatura cabelo parecido com o seu, “Miserável”, ela pensou, “por que tomou o meu lugar?”. Lembrou que algumas plantas são letais, mesmo que ingeridas em pequena quantidade, e pensou que seria bem romântico morrer mastigando uma flor com ácido cianídrico, atropina ou conicina. Lembrou também que, perto do seu prédio, num canteiro da Praça do Café, havia, além da estátua do imigrante italiano, um pomar de beladonas que, depois de ingeridas umas bagas, provocam rapidamente náuseas, delírio, cegueira e, por fim, a morte. Foi correndo até a praça, mas, quando viu a saída da creche, com risadas e socos e pirulitos e pequenas bombas de pólvora aos pés das babás de cara murcha, sentiu uma vertigem terrível que a obrigou a lançar o corpo violentamente sobre um banco de pedra, bem em frente à feira.

         Ao se largar errou o alvo e caiu estatelada no chão de terra suja. Nenhuma pessoa a ajudou ou mesmo riu, e foi a primeira vez que isso a incomodou, porque imaginou que, como nos filmes, uma suicida tivesse direito a ter por perto, aquela pessoa cujo destino fosse salvá-la. Depois lembrou de um filme italiano no qual um menino alemão, após a morte do pai nazista pelas brigadas aliadas, sem saber o que fazer, tomado pelo desespero, se joga do terraço de um edifício em ruínas. Aquela imagem enterrou qualquer possível hesitação. Levantou outra vez, nunca antes tão certa do fim, mas teve que desistir das beladonas, porque preferiu evitar as náuseas, o delírio e a cegueira. Não havia motivo para tanto caso. Decidiu seguir pela feira, onde apenas os gatos de rua se aproximavam dos seus pés em verdadeiras hordas, como se ele fosse uma santa, e foi até a linha de trem onde poderia ter um fim rápido. Refletiu um pouco e concluiu que não sabia dos horários das composições e, até que algum trem resolvesse aparecer, sua vontade poderia sofrer algum percalço. Mônica caminhou vagarosamente, pensando que tudo é uma questão de dar, tudo é uma questão de dor, como dizia o velho poeta e, afinal, o que ela mesmo havia dado, a mulher? 

         Nada, ela não havia dado nada. Não havia cedido a mais minúscula partícula de poeira a ninguém. E todas as vezes que precisou dizer alguma coisa que julgava importante para quem estivesse ouvindo, se enrolou a ponto de emudecer e gritar em pequenos intervalos, no que nem mesmo sua própria consciência era capaz de acreditar. Tudo por liberdade? Não era isso. Não se luta por liberdade. Liberdade é a própria luta pelas coisas que importam. E mais uma vez pensou na garrafa onde fora arrolhada.  Sacudiu a cabeça, beliscou o próprio pulso como quem diz: “não vá afrouxar agora, bundona!”. Então seguiu a passo firme até uma das passarelas que cruzam a pista da BR... De cima da passarela, pensou em simplesmente se jogar. Olhou, viu que vinha um carro muito feio, verde-musgo, então esperou até que viesse um mais bonito para cair por cima dele. Uma kombi, várias motos com motores entupidos vazando óleo na pista, variantes, viu até mesmo um trator de limpeza urbana. Olhou para baixo: até o vento havia desaparecido, entediado. Sua morte era um fiasco. Cabisbaixa, voltou à sua rua, onde a multidão já havia se dispersado. As pessoas esbarravam nela e nem se davam conta. Acertou um soco direto no olho de um gordo de barbicha que, no entanto, apenas desviou de uma pedra e continuou seu caminho, rindo e segurando as calças enquanto falava ao celular. No caminho viu um gato deitado como um vagabundo iluminado sobre os ladrilhos da entrada de um edifício. Dormia placidamente, e sua carcaça mantinha o ritmo de um sonho bom. Assim que passou na frente do edifício, em silêncio e admirada, o gato levantou a cabecinha numa radiação cósmica, o rabo em transe, e ficou olhando para os lados como quem não vê nada, mas mesmo assim se assusta.

         Ainda na direção do seu apartamento, cruzou com a única pessoa que lhe olhou durante todo o percurso. Era um homem bem bonito, mas muito gasto e mal-vestido, que falava sozinho contando os próprios dedos, completamente descabelado. Ele vinha concentrado em sabe deus o que quando, a uns cinco metros dele, fixou seus olhos arregalados nos dela e os manteve dessa forma vidrada até que ela o ultrapassou, então ela virou e viu que ele havia corrido - gritando desesperadamente – e caiu no chão de joelhos logo mais à frente, na esquina, como quem não sabe usar crase. Não entendeu nada daquilo e, de qualquer maneira, não tinha mais forças para pensar em nada. Antes de entrar no prédio, parou no meio da calçada e teve de súbito uma última idéia. Fechou os olhos, aguardou até abrir o sinal para os carros, esperou que eles começassem a passar, então atravessou vagarosamente a rua. Aparentemente nada aconteceu, pois chegou ao outro lado da rua sem que alguém ao menos ofendesse a alma de sua mãe.

         Na calçada, chorou sentada no chão, com as mãos na cabeça, batendo os pés com violência. Olhou para cima e viu uma nuvem de borboletas. Eram todas amarelas, bem claras, e uma delas pousou na ponta do seu nariz. Ficaram se olhando com a intimidade dos namorados silenciosos. Foi um aviso. Não poderia se matar. Inflou os pulmões para se levantar, enxugando as lágrimas. Sentiu-se bem outra vez, cheio de vida, por causa das borboletas que haviam sido tão boas com ela, que nunca lhes havia dado nada. Correu até seu edifício. Queria dizer a todos que amava a vida, amava cada minuto de vida. Todos os erros do mundo, ela os amava. As pessoas e seus defeitos, tudo cabia no coração. Amava a todos, com toda força. Queria muito abraçar seu Pai, pensava no “P” maiúsculo. Passou como um raio pela portaria, não sem antes gritar que amava todos os que sofriam e viviam intensamente suas vidas nesse mundo injusto, mas fez tudo como tão bem-aventurado quanto o filho pródigo que abandona o pai sozinho em casa para seguir em frente. E o porteiro do prédio, que trocava carícias com uma doméstica que carregava um carrinho de feira, nem mesmo reparou que ela havia passado. Logo ele que tantos olhares libidinosos já havia endereçado à ela. Homens!! Quando saiu do elevador, encontrou a porta do seu apartamento escancarada. Escutou vozes lá dentro. Monótonas, quase envergonhadas. Viu alguns vizinhos pelas frestas das suas portas. Sumiam e apareciam sem parar.

         Entrou por fim e viu dois sujeitos vestidos com ternos escuros de largas ombreiras, apertados na cintura. Um gordo e alto, um magro e baixo. Ambos muito suados. O magro lia aborrecidamente em voz baixa os artigos de um atestado. No sofá, viu seu velho pai chorando e balançando a cabeça em negação. As mãos por entre os últimos cabelos. A janela aberta. As cortinas haviam ficado para trás de tudo, ao sabor do vento. Um pássaro de peito amarelo e asa branca pousou e rapidamente abandonou o parapeito. Um papel rabiscado e assinado com sangue dançava em rodamoinho pelo chão da sala...
      
         Enfim,... entendeu tudo...
        
          MariaAntonietaRdeMattos.
         
http://mariaantonietta.multiply.com/
      mariahantonieta2003@yahoo.com.br 
 
          novembro de 2008
        

*** QUO VADIS? *** poesia





 

*** QUO VADIS? ***

Perdida num fim de mundo, sozinha e com minha dor;
dos confins e com espanto profundo, vejo elevar-se um celeste esplendor...

É Ele!! Uma aparição perturbadora, que com rosea face se faz...
E avança com a mão protetora, e em atitude de benevolencia e de paz... 

Me enclino ante o Ser querido, demonstrando ternura e temor...
Exclamo então com acento comovido: -  Onde vais...Senhor?

A Roma em que os mártires souberam, de suplícios heróicos perecer;
 é hoje o que os Césares quiseram...Templo da luxúria e do prazer...

Ali temos  Pedro o pescador;  que um dia predicou a humildade...
Mas hoje está coberto de esplendor, e ostentando poder e majestade...

Como feroz e fiel  cópia dos pagãos,  este Santo Inquisidor;
 queimou na fogueira seus pobres irmãos:  - Onde vais Senhor? 
 
Lá nos templos onde o culto impera; existe apenas a vaidade...
 Muito poucos são aqueles que com fé sincera,  adoram a tua  verdade...

O mundo com seu sangue "redimido",  vinte séculos depois não é sincero...
Está pervertido na verdade... Mais pagão que ao tempo de Nero...

Ante o altar da deidade impura, ufana  vive a juventude...
Contrária ao amor se conjura, proclamando o prazer como virtude...

As antigas barbáries subsistem, não mudou com a  idade...
Escravidão e o tormento ainda existem, é mentira o propalar da igualdade...

Hoje e antes os povos da terra, se armam para a traição...
Se eleva o monstro da guerra, com a bandeira do espanto e da confusão...

Cega e fatal a humanidade, está atolada nos antros de horror...
E duvida,  de si mesma horrorizada, então... Onde vais Senhor?
 
 
   MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
   mariahantonieta2003@yahoo.com.br
novembro de 2008

*** CONFISSÃO...*** poesia






                                           
 
 
*** CONFISSÃO...***
 
I 

Mil vezes
com palavras de pura doçura;
esta linda paixão
 comunicar-te ansio...
Mas
que palavras falarei com tal brio;
que não tenha rodeado
a impostura?

II

Penetre
 em tí calada a minha ternura;
sem parar um átimo
 no menor desvio...
Como
se fora um raio de lua em um rio;
feito aroma sutil 
na atmosfera pura...
 
III

Abre-me
então a alma silenciosamente...
E como  pensamento
estarei em tua mente;
com todo meu sonho
 realizado e satisfeito...

IV

Porque
terei felicidade correndo nas veias...
e mesmo que tenha
 que sofrer, me creias;
o coração mal caberá
a bater em meu peito...
 
dezembro de 2008.

*** SONHANDO... *** poesia




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***  SONHANDO... ***
  I

Sou Ella...!
E dou passos de menina...
Sinto tremor
com o roçar do vestido...
E estando no céu
como raio dividido,
meu espírito
liberto se ilumina...
II
Mil ânsias tenho
com a luta repentina...
Sinto o que é lembrança
e não apaga...
Pois circulando nas veias
o tesão me embriaga;
viciante sim,
tão ou mais que cocaína...

III
 Assim sou eu, 
do jeito que meu ser quer...
Enjaulada
numa prisão aterradora,
sem poder soltar
em mim, esta mulher...

IV
Peço à Deus
nas orações, ao me ajoelhar...
Pois receio  abrir
esta caixa de Pandora...
Oh Deus !
Ser mulher...Poder voar...
 
   MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
   mariahantonieta2003@yahoo.com.br
dezembro de 2008

*** DEIXA...*** poesia




                                               

 *** DEIXA...***
 
I
Olha, não
chores a incompreensão
que tanto causa o teu pranto...
 
Pela sina
da dor e do quebranto
que juntos laceram teu coração...
 
Todo meu amor
e minha admiração
são bálsamos para tua vida ferida...
 
E se a ignorância
continuar atrevida,
negando à ti a vitória tão merecida,
eu te cubro toda de flores
em botão...
 
II
 
Sou a dona de um formoso jardim,
onde coabitam a beleza e a calma...
 
Deixe, amor,
para outrem a dura palma
de descobrir roto, o mentiroso festim...
 
Tenho rosas,
tenho cravos sem fim;
serás feliz como ninguém foi...nenhuma!
 
E ainda virão
 reverenciar tua fortuna,
aqueles tolos que no final da jornada
acabam esfumaçando e sendo um nada;
com sua existência infeliz
e inoportuna...
III
 
Só não vivas
por aí de modo indefeso
e nunca ignores que o mundo é coeso...
 
De amor
nunca digas que ele entende...
Aos que são bons,o mundo agride e ofende,
pagando com a ignorância
e com desprezo...
 
                                                          
 
     MariaAntonietaRdeMattos.

*** AMOR A DUAS *** poesia




                                    
 

***  AMOR A DUAS ***
I
Bela e graciosa,  com toque
infantil,
assim Ella nasceu, e é assim que
a tenho...
Forjada ela foi  com o aço do
empenho,
de todo meu querer franco e
juvenil...
II
E, com um aroma doce  e viver
sutil,
sua alma terna com um mudo
lamento,
é  livre e voa, como um
 pensamento,
sem se importar com o meio frio,
hostil...
III
Ella não  é só filha  de minha
fantasia;
e não conheço outra mulher tão
bela...
E Ella se vê sozinha, como aquela
estrela
que brilha ao longe, anunciando  novo
dia...

IV

Ella se apaixonou e vive um doce
querer na vida...
Sol brilhando ao longe,  onde começa o
 albor;
e Ella deixando para trás a mágoa e o
horror,
é uma mulher vitoriosa, e pelo amor
vencida...
   MariaAntonietaRdeMattos.
dezembro de 2008

*** SOBRE O LAGO...*** poesia




 
 
 
*** SOBRE O LAGO...***
 
I Salve o lago azul; um ninho de vertentes,
que em meio de antigas sabinas, extrai de suas águas transparentes;
 a sonolência e as cores divinas...

II
 
As raízes preguiçosas em brejeirice,
com seus troncos tão altos e velhos, estendem em sua serena superfície,
que forma aqui e alí rotos espelhos...

III
E as muitas centenas de mananciais,
teu seio rasgam  em roda que gira...Entesouram em alvéolos e cristais,
de pura pedra de esmeralda e safira...

IV
E sendo fluídos lentamente se esmeram
 mui lentamente na areia que revolvem...São espirais e tua paz não alteram,
e junto de ti prontamente se dissolvem...

V
Como se fossem as naves de igrejas começadas,
 feito bosques de árvores militares; prontamente se elevam  retratadas;
em filas  de reflexos seculares...

VI
E então, demonstram os rudes filamentos
de seus troncos os séculos vividos; combatentes perdidos nos ventos,
os musgos em montes encanecidos...

VII
Como é encantador quando em meio à tarde;  
abraza o sol para morrer...Olhando o incêndio que ao longe arde,
em imenso cristal resplandecer...
e sem nada para perder...
 
dezembro de 2008

*** SOU SAUDOSISTA*** prosa





           
            *** SOU SAUDOSISTA***
      Sou saudosista. Talvez essa seja uma característica interna mais marcante. Não sei se herdei isso geneticamente, se é do meu mapa astral, se foi da criação... mas o caso é que eu não consigo me desligar do passado, por mais que o presente seja muito melhor.

      Até hoje tenho quase todas as minhas agendas-diários da época do colégio e volta e meia recorro a elas para ver o que eu fiz em tal dia de tal ano... e então me pego em uma viagem no tempo, de risos e de lágrimas, que às vezes dura dias.

      Cartões de aniversário eu tenho aos montes, por mais que eles digam a mesma coisa ano após ano. Simplesmente não consigo jogar fora algo carinhoso que alguém escreveu para ou sobre mim. As minhas poesias...Ah, eu tenho dois cadernos daqueles brochura. São dois cadernos cheios até a tampa com poemas e poesias. Eles retratam várias épocas, varias disposições de espírito desta pessoa, tão falível que sou, no decorrer dos anos.

      Tenho pensado muito a respeito disto tudo. Realmente têm pessoas mais desprendidas que as outras, que não acumulam nada, desapegadas mesmo. Acho que essas pessoas devem ter também mais facilidade para se libertar das emoções porque eu, simplesmente não consigo concordar que um sentimento possa mudar de um momento para o outro. Concordo que as pessoas ficam diferentes, mudam de opinião, mas isso não é de repente, leva tempo.
      Se eu escrevo – por exemplo – uma carta de amor hoje, com certeza vou continuar sentindo o que a motivou por bastante tempo, os meus sentimentos não são efêmeros, eles duram muito, até que apareça uma outra emoção mais forte para colocar no lugar, seja ela de raiva, de paixão, de indiferença ou do que for. Mas certamente enquanto o amor durar, eu não terei a menor intenção de me desfazer das lembranças “palpáveis” e elas ficarão guardadas em um lugar bem acessível, que eu possa rever na hora que der vontade. Sou uma pessoa que entra "de cabeça" nas relações. Guardadas as proporções, claro, sou confiada e, se gosto, confio sem questionamentos. Sou uma daquelas candidatas  a sofrer muito se errar o pulo.

      Guardo meus discos de vinil da infância, os livros da coleção de contos de fadas e os livros do Monteiro Lobato que tanto povoaram a minha infância. Nossa, tenho uma valise com bilhetinhos trocados com meus amigos de diferentes anos de escola, um chumaço do pêlo do Rex, meu pastor que morreu, cartas à mão da época que ainda nem existia internet, declarações de amor, e-mails, scraps, retratos e mais retratos... e dou valor a quem faz isso também.
      Outro dia encontrei, por acaso, um dos meus melhores amigos de adolescência, e ele falou que ainda tem todas as cartas que eu escrevi para ele quando fizemos intercâmbio. Fico tão feliz de saber coisas assim, dá a sensação de que você foi importante para alguém a ponto dessa pessoa guardar uma lembrança sua, por menos que você faça parte da vida dela atualmente.

      Claro que não é pra ser radical, como a minha avó, que guardava até as caixas de sapato, ou a mãe de uma amiga, que diz que nunca vai fazer plástica porque aquelas rugas são parte da história dela rsrsrs.. Eu conservo apenas o que me fez feliz algum dia. Minha vida não é só o presente, mas também o que já vivi e o que ainda viverei. Tudo fica bem guardado no coração, mas coloco também na gaveta, as recordações do passado. E gente, na cabeça, os planos para o futuro...
     
      dezembro de 2008

*** SOFRENDO...*** poesia





     



 *** SOFRENDO...***
 
I
 
Tú despertastes a alma rota e ferida,
desta pobre que perdida
em desventura...
No horrível
e escuro gólgota da vida,
sorvia com pesar um cálice
de amargura...
II

Com toda indiferença a meu fatal castigo,
a porta da parca dava um
frio na espinha...
Mais infeliz eu era
que um reles mendigo,
mais orgulhosa que uma
grande rainha...

III

E  porque te amei, estive sob teu jugo,
enegreci  mais minha
detestável história...
Quem nasceu com entranhas
de verdugo,
só dando tormentos encontra a glória..

IV

Antes de te amar apaixonada e em delírio,
vivia com meus pesares,
mas resignada...
Hoje minha vida é de sombras
 e martírio;
hoje sofro tudo que sofre uma condenada...
V
Perdi toda a fé em minha vida pesarosa,
sob meus pés um abismo em
cada porta...
Creio ser feliz a sina de quem 
 repousa;
no esquecido lugar de quem
 se acha morta...
VI

Nascer, crescer e morrer em um torvelinho,
no orbe deste mundo que o
 destino encerra...
Que importância terá o final
do caminho,
se vou apenas me tornar  o
pó da terra?

VII

O que é a tempestade? O que é a bonança?
Nada vai ter crédito em uma vida
vã e torta...
Já se acha  morto o coração;
e a esperança,
dentro dele também se encontra
morta...
VIII
 
Sabes porque te amei? Acreditei no destino!
Achei que te sufocava o
mesmo desencanto...
Ah! E toda ébria de amor imaterial
e divino,
quis eu mesclar o teu pranto ao
meu pranto...
IX

Diz, por piedade...Que mal te hei causado?
Porque me deixastes só nesta
 tempestade?
Se apossar do coração tolo e 
desgraçado,
para brincar com ele é muita
 crueldade...

X

Fostes a fonte de minha fé, todo o arranjo
que eu contruí com um coração
 rendido...
E misturei a natureza mística de
 um anjo
com o vigor terreno de um lúcifer
 caído...

XI
 
Minha alma infeliz e a tua se encontraram,
como o bem e mal em batalhar
eterno...
Uma luta que Deus e o Diabo
 forjaram
e cá estamos nós, entre a glória
e o inferno
XII 

Só quero  arrancar dos meus olhos a venda,
e voltar a ter de novo a minha
perdida calma...
Tirar-te de mim mesmo que
compreenda,
que agindo assim estarei  arrancando
 a alma...
   MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
  
mariahantonieta2003@yahoo.com.br
março de 2001

*** LINDO DIA...*** poesia





                                                          

*** LINDO DIA...***
I
 
Atenta apenas
em minha quimera,
não reparava ao redor
 e um dia;
me surpreendi com a primavera;
que para todos os lados
sorria...

II

Brotavam em tudo
 verdes folhas;
de gemas verdes da
ramagem...
Flores brancas ou aniz,
sem escolhas;
alegravam a pintura
da paisagem...

III

E como uma chuva de
flechas de ouro,
o sol reina sobre as frondes
juvenís...
Desde o amplo rio em
caudal sonoro;
se espelham luzes nos
sinamômos gentís...

IV

Por trás desta beleza está
a primavera,
que vejo brotar como uma
pantera
que no cio faz a a sua maior
 honraria...
 
V

Já é  tarde para a derrotar
a covardia?
E  ao pensar, a dúvida deixa
 esta fera;
está lindo lá fora...
Faz um lindo dia...

MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
   mariahantonieta2003@yahoo.com.br

dezembro de 2008

*** CHAPEUZINHO VERMELHO...*** prosa





*** CHAPEUZINHO VERMELHO...***
 
 
        
      Há algum tempo eu escrevi uma pseudo paródia; onde envolvia o conto do anão malvado Rumpelstiktin,  baseando-me no que contava a estória original. Depois da estória narrada, dei tratos à bola e satirizei a situação, "aprontando" uma malvadeza com a infantilidade do conto. A nossa infância, queridos amigos e amigas, nos remete por vezes a realidades pouco... reais...rsrs. Mas a "imbecilidade incipiente" destes contos pode ser meramente retórica de linguagem para deixar campo livre. Uma análise um pouco mais profunda pode ser vista no conto de Perrault... a estória de Chapeuzinho vermelho...
 
      Eu lí o livro que conta o conto de Chapeuzinho de autoria de Perrault, na versão original. Vários outros contistas adaptaram e ou se basearam no autor e tergiversaram...Por exemplo, os irmãos Grimm, em 1812, escreveram "Rotkäpchen" numa versão própria de um conto oral nascido na região dos Pirineus e do Tirol, e alguns de seus elementos básicos foram encontrados ainda em contos do Japão, Coréia e China.

      Em seu trabalho de compilação dos contos infantis ouviram o relato oral da huguenote francesa Jeanette Hassenpflug, que narra "Le Chaperon Rouge" - do citado Charles Perrault, escrito em 1697. Outra de sua fonte foi a peça com o mesmo tema "Leben und Tod des kleinen Rotkäppchens: eine Tragödie", escrita em 1800 pelo escritor romântico alemão Ludwig Tieck, que foi quem introduziu em sua versão o personagem caçador que salva Chapeuzinho e a vovó.

      É um conto rico de emoções, suspense e várias possibilidades de final. Até os próprios Grimm oferecem a versão alternativa da reação da vovó que salva-se e à neta, sem a interferência de nenhum homem, introduzindo a idéia da emancipação feminina - aliás presente na versão italiana inicial. O engraçado, queridos, é que para tudo hoje se acha uma veia ou chave, que abre as portas para "arrotar" uma incipiente liberação da mentalidade e da posotura feminina; repararam?

      Contudo o que realmente se salva nesse enredo são as muitas particularidades e aspectos humanos que aborda: laços de família, a questão da obediência ou desobediência aos pais, a iniciação à independência, a adolescência feminina, a sexualidade e o estupro, a ordem social contra o heroísmo feminino e masculino, travestismo, morte e renascimento, e até mesmo canibalismo. E acima disto tudo, com pitadas fortes, a malícia...

      Houve, amigas, e é quase desconhecido este fato,  até um movimento nas escolas alemãs do século XIX,  no sentido de colocar o conto numa espécie de lista negra devido a seu conteúdo de cunho fortemente sexual, embora os Grimm tenham diminuído muito essa faceta em sua versão, mais presente nas versões anteriores.

      Em meio à tantas discussões que geralmente se acendem, quanto às condutas modernas, me vêm à mente algumas perguntas: onde estão as vovós contemporâneas, tão importantes figuras para contar esse conto diretamente nos ouvidos de suas netinhas, fascinando-as com o tom de ameaça das perguntas sobre os olhos, o nariz e a boca... tão grandes?


Onde fica a oportunidade de captar a essência mítica de questões como o que é certo e o que é errado, o que é a preservação da integridade, onde fica a prudência como virtude? Porque será que em todo conto de natureza infantil, tem-se uma situação que beira ao ridículo ou... ao sexual voltado geralmente, e faço pose para dizer... para a malícia? Daí um gancho para se rever e puxar o cordão que fica à mostra.. E como disse certa vez  Lord Byron, " A sociedade é como uma mansarda podre; Chutem a porta e puxem o cordão... A estrutura toda cede..."


Bem, as crianças adoram contos. Creio até que seja, sim, preciso contar a estória, manter o mito, pois a natureza humana conserva-se igual à daqueles tempos, até hoje. Até porque o lobo exerce ainda seu fascínio e Chapeuzinho mora na alma de toda menininha que sempre teima em querer levar os doces para a vovó - e não bem pela estrada da floresta...
 
 
   MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
   mariahantonieta2003@yahoo.com.br
     dezembro de 2008

*** AI DE QUEM...*** poesia




                        

 *** AI DE QUEM...***

I
 
Ai de quem aqui
chega sedento,
e olhando para  a água a correr,
diz em tom
de puro abatimento:
- A  água só me causa sofrimento,
pois não mitiga
     a sêde ao beber...

II

Ai de quem dela  bebe e saciada,
despreza depois
a vida...
Moeda ao ladrão deu emprestada;
e agora se encontrando
 sem nada,
pode considerá-la perdida...

III

Ai daquele incauto que suspira,
e que se acha  acima
do sofrer...
Ou daquele tolo que crê
que a lira,
só tocará para seu deleite
e prazer...
IV

Ai daquele enfraquecido peregrino
que resolveu parar
para meditar...
Que após vencido um grande
caminho,
sentiu na alma o horror
de chegar...

V
 
Ai da tristeza, 
solidão e melancolia;
fonte de choro e sofrer onde moram...
E alerto também a
megalomania,
de imperadores que assim se
arvoram...

VI

Ai do incauto integrando a coluna,
que ronda a noite,
 achando-a bela...
De quem apaixonado não coaduna,
nem vê a destruição
 que vem com ela...

VII

E ai daquele que ao fruto
prendido,
nas ramas da árvore não
alcançou...
Ou ao que o fruto tendo
mordido,
derrotado terminou,
 surpreendido,
e só o gosto amargo de fel
provou...
 
dezembro de 2008

*** VELHO HOSPÍCIO... *** poesia




       

*** VELHO HOSPÍCIO... ***

I
 
Lembro-me do hospício ruinoso e velho,
instalado no casarão ...
Alí as gralhas se aninham nas  enegrecidas telhas...
Durante o inverno são numerosas como  abelhas,
sumindo depois,  no verão...

II 
 
Seu frontão forte como uma fortaleza, 
tem temerosos paredões...
Rincão sem beleza; assim é o velho hospício...
Gretados muros existem no sórdido edifício,
entre vários torreões.
III
 
Enquanto o sol de julho uma
débil luz envia,
à sua volta estalam de frio os campos ermos...
Animados  por quase nada, alguns enfermos
assomam para o pátio atônitos,
ao fim do dia...

IV

Vejo-os a contemplar o dia
prester a morrer,
com feições de falsa alegria e viver  tediosas...
suas almas e a do hospício estão silenciosas...
Assim também é a angústia
 do meu sofrer...
MariaAntonietaRdeMattos.
     
http://mariaantonietta.multiply.com/
   mariahantonieta2003@yahoo.com.br

dezembro de 2008