sábado, 1 de dezembro de 2012

*** AMOR DE MOÇO *** poesia




                     



*** AMOR DE MOÇO ***

I
Se soubesses
 moço ingrato,
o quanto meu peito te adora;
se soubesses
 que o me mata
é a paixão que por ti abrigo;
talvez,
moço encantador
não fosses tão cruel comigo..

II

Se soubesses
 que de minha  alma,
com teu desdém tem voado
fugaz e triste a calma...
Que te amo mais,
 mil vezes mil
que às lindas violetas no prado
ou ao romantico luar
 mais sutil...

III

Talvez então,
meu moço lindo,
olhasses melhor ao triste acento
de meu pobre penar todo  infindo...
Então,
 atendendo ao que reclamo....
Mitigasses este  meu tormento
num  beijo e um
 "eu te amo"...

IV

Se soubesses
 que é assim que te vejo,
sendo a razão maior  que me avia...
O meu o único
 e verdadeiro desejo;
é  poder algum dia poder  te  amar...
Deitar
 fora de mim esta melancolia,
que se reflete nas lagrimas de
meu olhar....

V

Quem sabe
 e talvez então me amasses,
com teu coração   de moço
 fogoso...
Meus lábios
 ansiosos enfim beijasses...
Carinhoso, excitado e
sorridente
todo entregue a este doce e gostoso
amor;
 puro sem trancas e urgente...VI
Vem me amar
 moço da alma pura,
já que sabes de  meu pensamento...
Vem possuir
 esta que te idolatra e que  jura;
ser toda tua se atenderes ao reclamo...
de acalmarmeu fogo e tormento
com um beijo e um
 "eu te amo"...
fevereiro de 2010
   MariaAntonietaR de Mattos

*** SOFRIMENTO ***




*** SOFRIMENTO ***

I
 
Como um rio
que enche suas ribeiras,
meu coração invades, eu  sinto
alento..
E dominas
como sempre o  pensamento,
das planícies até as recônditas
ladeiras...II
 
queimam
 teus passos e tuas fogueiras,
e a razão se paralisa sem
 sustento...
A alma é
então moldada ao sentimento
e dela só exaltam velhas
 primaveras...
III

Oh!  cega
fonte de grandes melancolias
que se eleva em dias e noites esquecidos;
sem deixar nenhum resquicio
 de beleza...
IV

Queria que
findasses em mim teus dias,
que não mais recobrasses teus sentidos
causa e razão de todas as minhas
 tristezas...
 
fevereiro de 2010
   
   MariaAntonietaR de Mattos

*** POR ISTO ***




                                                


*** POR ISTO ***
I
É por isto que és bom, és inocente
como se fora antes  um sonho
singelo,
e talvez por seres cândido,  és belo
como se fora um nectário
nascente...

II
E por isto teus olhos são diferentes,
donos de um dulcissimo
 encanto...
Deixando o que é formoso e santo
ser visto por todas as
 gentes...
III
É por isto, por teres toda esta essência
de virilidade e de grande
 consolo;
que afastas  de ti tudo aquilo que é tolo
enaltecendo a ternura, a
 inocência...
IV
Por isto ainda, no sol de tuas virtudes
se espelha luminoso, todo 
realizado
o ideal vago, mas que é sempre sonhado
por todas as incontáveis  
juventudes...

V
E então, por isto,  menino feiticeiro,
te adoro com todo meu
compromisso...
E é  por tudo o que disse... é por isso
que te ofereço minha vida
inteira...
MariaAntonietaR de Mattos
fevereiro de 2010

*** UMA FOLHA ***




                             





*** UMA FOLHA ***
I
 A esta folha
 retirada de uma coroa,
que a fortuna colocou em minha frente;
entre o aplauso é fácil e indulgente
e como a um  primeiro ensaio
 se perdoa...
II

A esta folha
bemvinda de   laurel à toa,naquela noite construído tão docemente;
por mais que a razão compreende e sente
é só  um laurel; que do mérito
não destoa......III
Tu a viste nascer pura, doce
e toda meiga,e sentistes  como eu aquele encanto,que produziu ao dominarcena mais leiga...
IV
Ofereça-a quando vires um
chôro triste,
a um amor que te queira mais, ou tanto
mesmo que ao teu coração
ela não conquiste...
   MariaAntonietaR de Mattos
fevereiro de 2010

*** ESVAIR-SE... ***




                                    


*** ESVAIR-SE ***

I

 
Quando 
 tudo eram flores no caminho,
quando
tudo eram pássaros no ambiente;
ao invés
 de trilhar forte eras  todo pendente,
tudo era
em ti fugaz, tolo  e repentino...

II
 
Veio o
inverno de ventos em assobio fino,
e o gelo
que estancou tua corrente...
Nesta situação
tão triste e tão diferente,
nem em um
pálido raio de sol se via o destino...

III
 
E assim, na
vida dedicada ao incerto e ao leu,
enquanto
tudo é ilusão, eis que célere avança;
nuvens
negras de amarguras pelo céu....

IV
 
E quando
então a má sorte enfim te alcança,
pode-se fechar
 em ti os panos do docel;
e nada mais
pode te dar qualquer esperança..
 
   
   MariaAntonietaR de Mattos
 
fevereiro de 2010

E NÃO É O HOLANDÊS VOADOR... NEIN...NEIN...NEIN...




               


E NÃO É O HOLANDÊS VOADOR... NEIN...NEIN...NEIN...
 
 
 
 
 
        Para quem gosta de ler e leu o holandês Erasmo de Roterdã ele, em seu livro Elogio da Loucura, usa a própria loucura como personagem. Para quem não leu, saibam que Erasmo a mostra ( a loucura ) indignada com a falta de elogios a seu respeito,  resolvendo elogiar a si própria. Ela diz:... "Se não tens quem faça teu elogio, elogia-te a ti mesmo”. Relata a extrema necessidade da presença dos loucos em todos os lugares e ocasiões. Mostra o quanto é triste ou monótono a ausência dos loucos em qualquer evento e o quanto é divertido quando eles estão em cena.

        No meio político brasileiro ocorre o mesmo. Os nossos loucos políticos, e tenham-me aqui como uma completa agnóstica política,  nos divertem com suas peripécias. Para que não me rotulem de pendendo pra cá ou pra lá, adianto que sou trans na política também... rsrsrs ou seja estou no " meio " e com tendência forte à votar no Marechal Teixeira Lott!! 
        A nossa imprensa aproveita-se da insanidade política para fazer críticas e elogios, desejando ela também, dentro da loucura do comércio e da venda dos "pasquins"; colocar de toda forma a "loucura".... Rotulam esses tipos de brincadeiras com inúmeros títulos: “Propinoduto”, “Valerioduto”, “Mensalão”, “Mensalinho”, “Sanguessugas”, “Cartões Corporativos”, “Atos Secretos” e muitos outros.
 
        Uma das loucuras atualmente muito freqüente é o transporte de dinheiro na cueca. Isso talvez seja para aparentarem que são bem dotados. É muita ingenuidade! Coisa de loucos! Já pensou se aquela liga que prende as notas enganchar nos seus órgãos genitais ou nos pelos pubianos? E se as ligas enroscassem prendendo a circulação sanguínea do pênis? Haveria aí o grande risco de necrose peniana, ou seja, a possibilidade da morte do outro louco, hehehehe... Com certeza eles disfarçariam a dor com sorrisos, eis que não  estão habituados a verem cabeças rolarem.
 
         E o cheiro que fica impregnado no dinheiro? É por isso que certas pessoas reconhecem com facilidade as notas que passaram por esse tipo de divertimento. Ingenuamente dizem que o dinheiro é podre. O povo, já tão habituado com essas proezas, permite que esse cenatório (cenário + sanatório) político continue existindo. Um tratamento tão radical como o eleitor-choque, prescrito por alguns, infelizmente não tem tanto apoio popular. Dessa forma, a loucura continuará em evidência, reinando a insensatez.

         Os nossos loucos políticos jamais aceitariam qualquer tratamento. Como dizia Raul Seixas: “A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal”. E nós que não fazemos parte dessa confraria ficamos numa situação muito difícil, pois Erasmo também dizia: “A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de loucos”.
       
   
   MariaAntonietaR de Mattos

*** PARA UM BOTÃO...***




                        



*** PARA UM BOTÃO...***

 
Quando teu
 broto apenas se entreabria,
para aspirar do início da vida ao contento,
acaso então  te entregavas sem alento
a qualquer dor ou mesmo
 a toda agonia?...II
 
Não vez meu
adorado,  como se inicia,
o negror que escurece o firmamento?
Mas estas nuvens quando soprar o vento
não te deixarão ver de novo
a luz do dia?III
 
Reanima!
levante-se enquanto não soa
a hora, que do fundo de teu nascente botão;
surgirás lindíssima, dominando
 numa boa...IV
 
Tira a expressão
 de quem está sob açoite,
mostrada como esta nuvem  no coração...
Ela é só uma sombra, nada a ver
 com a noite...
 
MariaAntonietaR de Mattos
 
fevereiro de 2010

*** DESVAIRADO ***




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*** DESVAIRADO ***

I
 
Amar alguém, sentir
seu alento
e escutar ao seu lado
seu doce e harmonioso
acento...
Ter sua boca em nossa
 boca unida
e seu corpo no nosso
recostado...
Eis a sensação mais grata
 da vida,
o prazer mais
profundo;
que se pode desfrutar
 neste mundo...
II
 
E o amor à alguém é
tão preciso
como a beleza das flores...
Como um querubim ardente
 do paraíso
originando um prisma mágico
de cores...
 
Prisma que se transforme e 
 conforte
qualquer espinho em bela
 rosa...
 Que possa fazer  bela até
 a morte,
ela com sua  aparência
 espantosa...
III
 
 
Quando ama, esquece
o homem
até mesmo de sua
essência...
Seus deveres mais nobres
 somem
e deixa do céu nesta
existência....
Com seu afã e seu delírio
 louco
acariciando e aceitando toda
 ingerência...

IV
 
E.. o mundo inteiro lhe parece
 pouco,
removendo ao bel prazer a
harmonia...
Vê a águia em alto vôo e...
quem diria,
grita de puro prazer até ficar
 rouco,
respirando o sentimento na luz
do dia...
   MariaAntonietaR de Mattos
     www.bccclub.com.br fevereiro de 2010

*** O AMOR...***






                        


*** O AMOR...***
I
 
Ah, o amor...Quando em
plena revoada,
brota da terra em gaias e
lindas flores...
Em meio à densas selvas
povoadas;
de abelhas obreiras e pássaros
cantores...
Ele corre célere em límpidas
cascatas,
fluindo  entre pedras pelo sol
iluminadas,
vertendo pleno de  beleza e
 amores..
.
II


E no beijo trocado entre de
Adão e Eva,
correndo na história pelos eões
do vento;
viram as criaturas  não ser
 tormento
esta lenda feita em  era tão 
 primeva...

III
E quem é que  não quer ter
a ventura,   
aquela torrente de calor que
sempre leva   
para a coalizão de oferta,  duas
criaturas?...   

Se completando em um ardente
gemido,   
num prazer divino  desfrutado
nas alturas   
e coração louco, descompassado,
 perdido?...  
 
Quem não viveu tais prazeres
e venturas,   
sofre pela  vida com  frustações 
e amarguras;
não vê o dia brilhar...A vida não
 tem sentido...

MariaAntonietaR de Mattos
fevereiro de 2010 

*** EMBAIXO DA TERRA ***




                                 
          

         Apucarana PR, 27 de fevereiro de 2010
         Gente,
         Este conto, como aquele editado ano passado aqui mesmo, tem um correspondente em "Obras Primas do Conto Universal". Para que não pensem que estou plagiando o conto, de autoria de Henry Kuttner, menciono a autoria tendo a mão livre para fazer algumas ponderações de punho, tendo em vista que traduzi do original.
         Tomara que gostem...         
 *** EMBAIXO DA TERRA ***
                               
 São Patrício, 1871...Na cinzenta e anciã cidade, uma cena está se passando lá no velho cemitério. Seu zelador, o velho    Valmir Custódio, tinha uma preocupação cada vez mais preemente com os ratos. Há incontáveis gerações, tinham vindo eles dos Armazéns de cereais e dos aterros pantanosos, se instalando no cemitério, uma verdadeira colônia de enormes ratos. Quando Custódio passou a ocupar o atual cargo, após o desaparecimento inexplicável do outro zelador, decidira dar-lhes caça. A principio, deitara-lhes armadilhas, envenenara comida, que largava pelos buracos, e, mais tarde, experimentara matá-los com uma espingarda, mas nada conseguiu. Os ratos continuavam, multiplicavam-se, infestando o cemitério, com suas hordas inextinguíveis.
Eram enormes, mesmo para o “mus decumanus”, que as vezes chega a medir quinze polegadas, excluindo-se o rabo cinza e rosa. Custódio entrevira alguns tão grandes quanto gatos e, quando, certa vez, os coveiros remexeram em suas tocas, os mal odorosos túneis eram tão largos, que permitiriam a passagem de um homem agachado.
         Não se sabe ao certo sua origem; de vieram em navios com imigrantes há várias gerações,  arrebanhados das mais estranhas cargas. Sabe-se apenas que acabaram infestando aquela zona baixa de São Patrício, Custódio frequentemente se admirava do tamanho desses túneis. Lembrava-se vagamente de lendas perturbadoras, que ouvira ao chegar àquela São Patrício primeva e povoada de contos de feitiçaria – narrativas de uma vida inumana, moribunda, que se dizia ter existido em tocas esquecidas, nas profundezas da terra. Os velhos dias em que Sessões com bruxarias satânicas foram uma praga em São Patrício, tinham passado. Mas, escuras e tétricas casas de desenho europeu com suas torres pontiagudas ainda se inclinavam perigosamente umas para as outras em ruelas estranhas da cidade que se mostrava única neste mister no sul do País. Mais de trezentos anos de fundação, seguida de uma torrente de imigrantes que por ela passavam em busca de novos horizontes era o palco desta pequena cidade nestes meados do século XIX. E segredos blasfemos atestavam que, nas suas cavernas e adegas subterrâneas, celebravam-se ainda os ritos negros, que desafiam a sanidade mental. Meneando gravemente a cabeça branca, os mais velhos afirmavam que havia. Poucas cousa piores que ratos infestando a terra esburacada dos antigos cemitérios de São Patrício. a Cidade, apesar de não ser grande, tinha três deles devido à idade avançada de existência.

         E, aqui, voltamos à curiosa questão dos ratos. O velho Custódio odiava e respeitava os ferozes roedores, pois conhecia o perigo que se desprendia de seu pêlo luzidio e caninos aguçados. Não entendia, porém, o horror que os mais velhos ressentiam pelas casas abandonadas de viventes e infestadas de ratos. Ouvira vagos rumores sobre – espectros, que perambulam pelos subterrâneos e cujo poder se exerce sobre ratos, a organizá-los como um verdadeiro exército. Os ratos, murmuravam os mais velhos, são os mensageiros entre este mundo e o outro, que se oculta sob a terra de São Patrício. Cadáveres tinham sido roubados de seus túmulos, para os festins subterrâneos, assim diziam. Custódio não cuidava muito dessas histórias. Não confraternizava com seus vizinhos e tudo fazia, na verdade, para ocultar a existência dos ratos aos intrusos. Investigações, pensava ele, não sem razão, significariam a abertura de inúmeros túmulos. E, conquanto alguns caixões e corroídos, esvaziados mesmo, pudessem ser atribuídos à ação dos ratos, Custódio achava difícil explicar os corpos atirados, que jaziam em algumas das tumbas.

         O ouro, o mais puro, era usado na obturação de dentes, e  esse ouro não era removido por ocasião do sepultamento. Roupas, está claro, eram também outro assunto, pois o agente funerário se encarregava de que seu cliente vestisse as mais baratas possíveis. Mas o ouro não. E, mais ainda: estudantes de Medicina e médicos de reputação duvidosa estavam sempre à cata de cadáveres e não se incomodavam absolutamente em conhecer a origem desse fornecimento... Por isso, o Custódio, até agora, conseguira impedir as investigações. Negara firmemente a existência dos ratos, embora estes lhe roubassem freqüentemente a presa. O Custódio pouco se incomodava com o que acontecesse aos corpos, depois que neles tivesse exercido sua operação, e os ratos, exoravelnente arrastavam o cadáver, através do buraco que roíam na parede do caixão. O  tamanho desses buracos, às vezes, preocupava Custódio. Acrescia-se ainda, a estranha circunstância das urnas serem sempre abertas na parte correspondente às extremidades, nunca no cimo ou nos lados. Poder-se-ia crer que trabalhavam sob as ordens de algum líder impassível e extraordinariamente inteligente.

         Neste momento, Custódio achava-se de pé, em uma cova descoberta, atirando para o lado os últimos montes de terra. Chovia, uma garoa miúda e fria, que, por semanas a fio, castigava a terra. 0 cemitério parecia um lamaçal amarelo, de que se destacavam as tumbas, como monstros desordenados.
Os ratos haviam-se retirado para suas tocas e fazia dias que custódio não punha os olhos sequer num. Seu rosto barbudo e de expressão dura estava totalmente enrugado. 0 caixão que pisava era de madeira.  O corpo tinha sido sepultado dias antes, mas Custódio ainda não ousara desenterrá-lo. Um parente do morto viera ao cemitério, por diversas vezes, arrostando o mau tempo. Confiava, porém, agora, em que não apareceria a horas tão tardias, por maior que fosse a sua dor, pensava o Custódio, a fazer caretas das mais horríveis.... Descansou por instantes. A colina, em que estava situado o velho cemitério, divisava as luzes de São Patrício, tremeluzindo, através da neblina. Tirou uma lanterna do bolso. Precisaria de luz, agora. Empunhou a pá, inclinou-se e examinou a fechadura do caixão. Parou abruptamente. Sua atenção foi despertada por um leve mexer, sob seus pés, como se algo se movesse dentro do caixão. Um medo supersticioso tomou conta dele, detendo-lhe a respiração, até que percebeu o significado daqueles ruídos. Os ratos tinham-no precedido, despojando-o de sua presa.Num paroxismo de ódio, Custódio arrebentou as ligaduras do caixão, enfiando a ponta da pá entre a tampa e o esquife: propriamente dito. Iluminou-o com a lanterna.

         A chuva caiu de encontro ao cetim branco, do forro. 0 caixão estava vazio. Custódio percebeu movimento na extremidade do sarcófago e dirigiu a lanterna para ela. Um buraco enorme deixava entrever um sapato preto, que se arrastava vagarosamente, e o homem compreendeu que os ratos o haviam precedido de apenas alguns minutos. Caiu sobre os joelhos e tentou agarrar o sapato, deixando tombar a lanterna dentro do caixão. 0 sapato não foi, alcançado e ele ouviu um guincho agudo, excitado. Tomou novamente a lanterna, iluminando o buraco. Era bem grande. Tinha que ser, ou o cadáver não poderia ter sido arrastado por ali. Custódio espantou-se ainda uma vez ante o tamanho de ratos, que podiam agúentar com o cadáver de um homem, mas a certeza do remover, que carregava no bolso, confortou-o. Provavelmente, se o cadáver fosse de uma pessoa comum, Custódio o deixaria entregue aos raptores e jamais se aventuraria naquela toca, mas estava bem lembrado de que o cadáver vestia uma camisa de linho finíssimo e que seu alfinete de gravata era de pérola. Sem quase refletir, pendurou a lanterna na cinta e engatinhou no buraco. Era apertado. mas conseguiu passar. Bem à sua frente, podia ver os sapatos que andavam por sobre a terra úmida das profundezas do túnel. Engatinhou o mais rapidamente que pode, às vezes tendo que se arrastar de barriga, por falta de altura.0 ar era irrespirável. Se não alcançasse o corpo em um minuto, decidiu Custódio, voltaria. Terrores subconscientes começavam a fazer-lhe companhia, sem que pudesse evitar, mas o ódio impelia-o para a frente. Arrastou-se, atravessando túneis, que se entroncavam. As paredes eram limosas e por duas vezes bolas de lama caíram sobre e atrás dele. Da segunda vez, parou. Não enxergava. Desatou a lanterna da cinta e iluminou a escuridão.


         Torres de terra amontoavam-se atrás dele e o perigo sua posição, de repente, tornou-se real, pavoroso. Com medo de ficar sepultado vivo, resolveu abandonar a perseguição, embora quase alcançado o cadáver e o ser invisível, que o arrastava. Mas, não pensara em uma coisa. 0 túnel era muito estreito, para permitir que ele se virasse. 0 pânico assaltou-o, mas lembrou-se: de um túnel que atravessara havia instantes e de costas; entrou nele girando aos poucos, até poder prosseguir de frente. Rápido tentou encontrar o caminho de volta. Conquanto ” Joelhos estivessem machucados e trêmulos. Uma dor aguda paralisou-lhe a perna. Um dente agudo se enterrara em sua carne. Custódio se bateu freneticamente. Ouviu guinchos excitados e o mover de muitos pés. Iluminando com a Custódio estremeceu ante o descomunal daquela coisa invisível. A luz os detivera momentaneamente, mas, agora, se aproximavam, os dentes alaranjados devido à iluminação. Custódio conseguiu sacar a pistola do bolso e mirou cuidadosamente. Sua posição era péssima. Firmou os pés nas paredes limosas, para não desperdiçar o tiro. O ruído espantoso da explosão ensurdeceu-o por instantes e a fumaça provocou-lhe tosse. Quando pode ver e ouvir novamente, os ratos tinham desapareci o. Recolocou a pistola no lugar e quis prosseguir a caminhada de volta, mas, entre guinchos e arrastar de pés, já estavam de novo em cima dele.Treparam em suas pernas, mordendo e guinchando loucamente. Custódio estremeceu, ao procurar o revólver. Atirou sem mirar e unicamente a sorte o livrou de arrancar o próprio pé. Desta vez, os ratos não foram longe, mas ele corria o melhor que podia, pronto para atirar ao primeiro ruído suspeito. Novo ruído de pés e o homem iluminou, com a lanterna, atrás de si. Um enorme rato cinzento parou e vigiou-o. Seus longos bigodes moviam-se e o rabo, escabroso e sem pêlos, balançava de um lado para outro. Custódio  gritou, e o rato afastou-se.
         Prosseguiu, detendo-se ante um túnel negro, bem à altura de seu cotovelo, bloqueado por uma massa, que julgou, por instantes, ser terra, desmoronada do teto, para logo verificar, horrorizado, que se tratava de um corpo humano.Era uma múmia marrom, enrugada, e, por pior que aquilo lhe parecesse, a cousa se movia. Arrastava-se na sua direção e, à luz da lanterna, a cara horrenda mergulhou na sua. Era um esqueleto de muitos anos, a viver uma vida diabólica. Não tinha olhos, mas buracos, que. inexplicavelmente, brilhavam, através de sua cegueira. E aquilo gritava à medida que avançava para Custódio, a boca entreaberta e retorcida. O coveiro enregelou de pavor e nojo. Antes que aquele horror o tocasse,  enterrou-se no túnel ao lado. Ouviu um arranhar de garras atrás dele, olhando de esguelha, gritou, gritou, enquanto mais enterrava no buraco estreito. Arrastou-se desajeitadamente, sentindo que pedrinhas agudíssimas lhe dilaceravam as mãos e os joelhos. A sujeira penetrara-lhe os olhos, mas não ousava parar. Engatinhava, blasfemando, respirando com dificuldade e rezando histericamente. Guinchando triunfalmente, os ratos chegaram-se a ele, a fome horrenda escrita nos olhos. Custódio quase sucumbiu ante os dentes agudos, mas conseguiu afastá-los. A passagem estreitava-se cada vez mais. No paroxismo do terror, o coveiro deu pontapés, gritou.  Achou-se, engatinhando, sob enorme pedra, incrustada no teto, que pesava cruelmente nas suas costas. Moveu-se Um pouco, quando foi atingido por seu corpo. Uma idéia atravessou a mente quase enlouquecida do homem. Se pudesse arrancar a pedra e bloquear o túnel! A terra estava úmida, devido às chuvas e, de cócoras, Custódio  começou a escavar em torno da pedra. Os ratos se aproximavam cada vez mais. Via-lhes os olhos que brilhavam, a cada tremeluzir da lanterna. A pedra começava a ceder. Um rato se aproximou – o monstro, que já entrevira. Cinzento e parecendo leproso, avançava, com os dentes alaranjados à mostra, rebocando aquela cousa morta; que guinchava à medida que se arrastava. Custódio esforçou-se, trabalhando, desesperado, e sentiu que a pedra ia cair. Rápido, continuou a arrastar-se pelo túnel.
Atrás, a pedra ruiu fragorosa, e ouviu-se súbito guinchar de agonia. Torrões de pedra caíam sobre as pernas de Custódio, que custava a livrar-se deles. Todo o túnel ia desmoronando!
         Respirando com dificuldade, amedrontado, o velho Custódio  impeliu-se para a frente, percebendo que a terra úmida queria engoli-lo. 0 túnel estava-se estreitando de tal maneira que já não podia usar mais as mãos e pernas para se mover.
Deitou-se de barriga no chão, coleando como uma enguia, mas de repente, quando experimentou erguer-se, descobriu que o teto se achava apenas a centímetros de suas costas. 0 pânico assaltou-o. Quando o horror cego lhe bloqueara o caminho, atirara-se desesperado para um túnel lateral, túnel que parecia não ter saída! Só agora entendia. Estava num caixão, um caixão vazio, cuja extremidade, como de costume, tinha sido roída pelos ratos.
Experimentou voltar-se de costas, mas não pôde. Se ao menos pudesse levantar a tampa do caixão! Impossível. E, se pudesse escapar do sarcófago, como faria para remover a cinco pés de terra? Custódio arfava. 0 ar irrespirável, fétido, era de um calor infernal. Num paroxismo de terror, arranhou, raspou o cetim do forro, até que este se despedaçou. Com os pés, tentava cavar o monte de terra desmoronada, que lhe bloqueava a saída. Se ao menos pudesse mudar de posição, se pudesse encontrar um pouco de ar… ar…  Agonia amarela, morna, espalhou-se por seu rosto e turvou-lhe os olhos. Sua cabeça parecia intumescer, crescendo, aumentando, sempre mais. E, de repente, ouviu o guinchar triunfal dos ratos. Pôs-se a gritar feito louco, mas já não conseguia afastá-los. Por momentos, buscou histericamente um refúgio dentro de sua estreita e estranha prisão, e depois aquietou-se, tentando respirar. Seus cílios desceram sobre os olhos, a língua preta lançou-se fora da boca e ele mergulhou na escuridão da morte, enquanto os ratos, desatinados, banqueteavam-se em suas orelhas...

*** OI BRISA... ***




                            


*** OI BRISA... ***
 
I

Alento
da manhã trigueira,
que vais roubando
 assim ao léu;
a essência pura e passageira,
que a violeta  poderosa e faceira,
despede em vapores
ao céu...

II
 
Diga-me
ó sopro da aurora,
vento  inconstante e ligeiro...
Vais por acaso a
esta hora,
até  o vale que te enamora,
e que sofrendo te
espera faceiro?
 
III
 
Ou vais até
aos ninhos protegidos,
dos pássaros ditos
cantores,
onde os filhotes  adormecidos;
aguardam nas ramas escondidos,
sobre seus leitos
de flores...?
 
IV

Ou ainda
 anuncias  por acaso,
em um soprar da alva
 nascente,
ao murmurar em teu firme
 passo
que se este sol morre no ocaso
está nascendo e se alça
 no oriente?

V

Então
 recolha tuas leves asas,
ó pura brisa de
estio...
pois os perfumes que exalas,
vais roubando entre as galas,
das violetas
do rio...

VI

Segura
 tua fugaz carreira,
sobre as risonhas flores dos
 montes e pradarias....
Venha aqui  despertar ligeira
usa este teu poder de feiticeira 
no anjo dono de  minhas
poesias...

VII
 
Então lhe
 diga  brisa perfumada;
com teu murmúrio sonoro...
que ele é minha ilusão dourada,
dono e senhor de minha estrada,
o deus homem que
adoro...
 
 
MariaAntonietaR de Mattos
março de 2010